Monster Train 2: Céu, Inferno e Cartas Bem Jogadas

Quando recebi a notícia do anúncio de Monster Train 2, admito que um sorriso tomou conta do meu rosto. O primeiro jogo, lançado em 2020, conseguiu algo raro em meio à saturação de roguelikes e deckbuilders: prender minha atenção por horas, a ponto de perder a noção de espaço e tempo. O típico jogo que faz parte do gênero: “só mais uma run e eu desligo.” É aquele jogo que você se arrepende de começar às duas da manhã, porque sabe que não vai conseguir parar. Mas se arrepende sorrindo.

Portanto, minhas expectativas eram altas, talvez perigosamente altas. Agora com o seu lançamento, será que Monster Train 2 consegue recriar a magia do primeiro ou vai cair naquela armadilha comum das sequências: tentar reinventar a roda e acabar quebrando o que funcionava tão bem antes?

Depois de várias runs investidas na versão completa do game, já posso responder com tranquilidade, sem click baits: Monster Train 2 não apenas acerta, como expande e muito a fórmula original.

De volta aos trilhos (ou quase)

Primeiro, vamos ao contexto. O original colocava você comandando um trem infernal, descendo aos confins do submundo para reacender as chamas do inferno. Agora, a história toma um rumo inesperado: céu e inferno precisam unir forças contra um inimigo em comum, os Titãs, ameaças colossais que desequilibraram o balanço cósmico. Sua missão é levar a última centelha do inferno até o coração das ameaças celestiais, enquanto defende a preciosa Pira das hordas inimigas.

Se no primeiro jogo você descia rumo ao inferno, desta vez a jornada é ascendente, rumo às alturas divinas, e o cenário angelical é uma adição mais do que bem-vinda. A estética continua caprichada: os gráficos 2D são estilizados, vibrantes, com uma animação que transborda personalidade. Aliás, visualmente o game me fez lembrar um pouco da irreverência de Hades, com cores intensas, personagens marcantes e detalhes visuais que reforçam a identidade do jogo a cada momento.

Mecânicas que evoluem sem perder a essência

Enquanto o cerne do jogo permanece, Monster Train 2 aprofunda a fórmula de maneiras elegantes. As principais adições complementam bastante a evolução de gameplay do título anterior para este novo.

Equipamentos

Agora você pode equipar suas unidades com artefatos únicos, como escudos que refletem dano proporcional ao HP ou espadas amaldiçoadas que garantem Multigolpe (mas drenam força a cada ataque). Essa camada transforma unidades comuns em peças-chave da estratégia.

Cartas de Sala

É possível aplicar modificadores aos andares do trem, adicionando efeitos como regeneração ao fim do turno, buffs após mortes ou duplicação de debuffs. Cada vagão se torna uma arena estratégica por si só, e você começa a planejar o combate de baixo pra cima com ainda mais profundidade.

Cooldowns

Algumas unidades e cartas agora possuem habilidades com recarga. Isso muda radicalmente a maneira como se pensa o tempo no jogo: jogar cedo ou esperar mais um turno? Gerenciar esses momentos virou parte essencial da vitória.

Botão de desfazer

Uma novidade simples, mas poderosa. Agora é possível desfazer jogadas do turno atual antes de finalizá-lo. Para um jogo tão baseado em sinergia e posicionamento, esse botão é um verdadeiro alívio – e deixa o jogo mais acessível sem perder a profundidade.

Os novos clãs: carisma e complexidade estratégica

Como no primeiro jogo, a escolha dos clãs — um principal e um secundário — define as cartas disponíveis durante cada run. Nesta sequência, são cinco novos clãs, e cada um oferece estratégias únicas e profundamente interessantes.

  • Os Expurgados

Aqui temos anjos que foram exilados no Inferno, agora retornam aos céus com gosto de vingança. São especialistas em acumular Bravura, um buff que aumenta o ataque e gera armadura para quem estiver na linha de frente. Suas unidades exigem movimentação constante para aproveitar ao máximo esses bônus. É um clã de alta mobilidade e reposicionamento, com um equilíbrio notável entre ataque e resistência. Jogá-los bem exige visão de conjunto e controle fino da ordem das unidades. É um clã inicial, mas que para dominar e vencer uma run com ele, precisa de muita experiência.

  • Os Píricos

Dragões e serpentes aladas que acumulam tesouros e espalham Gel Pírico, um debuff que aumenta o dano recebido por inimigos. A mecânica de gel pírico brilha quando combinada com ataques em área ou habilidades múltiplas. Além disso, o clã possui uma moeda interna que pode ser acumulada e trocada por artefatos valiosos. Jogar com os Píricos é uma aula de gestão de recursos: você está sempre equilibrando risco e recompensa. Curte pensar no que vem a seguir e dano alto, mas aposta de alto valor? Os cospe-fogo podem ser a melhor opção.

  • Irmandade Lunar

Logo de antemão, já admito que foi o meu favorito: Magos lunares que operam em ciclos de lua cheia e nova, alterando o efeito de suas cartas e feitiços. Suas principais cartas aplicam Conduítes, buffs que amplificam feitiços jogados naquela sala. Um feitiço inofensivo de 0 dano pode virar uma bola de fogo nuclear com os buffs certos. É o clã mais dependente de timing e previsibilidade – mas também um dos mais satisfatórios quando engrena.

  • Legião do Submundo

Estes sacerdotes misteriosos dominam o campo de batalha manipulando tempo e espaço com habilidades de cooldown. Suas unidades e feitiços possuem efeitos retardados, mas extremamente impactantes quando ativados no momento exato. Eles exigem paciência, previsão e a capacidade de antecipar movimentos inimigos com rodadas de antecedência, trazendo uma camada tática inédita para o jogo. É desafiador, mas, ao mesmo tempo, pode ser o clã com maior sentimento de recompensa da lista.

  • Liga de Lázaro

Esse clã surpreende com uma estratégia mais defensiva, baseada em máquinas e construtos que evoluem e melhoram ao longo da batalha, acumulando “ferrugem” a cada turno. Essa ferrugem aumenta o poder e resistência das unidades conforme o combate avança, criando um efeito bola de neve para batalhas prolongadas. São lentos para começar, mas virtualmente imparáveis se conseguirem se manter em campo por tempo suficiente.

Essa diversidade garante não apenas alto fator replay, como estimula que você experimente combinações malucas e teorize combos improváveis, tornando cada partida uma experiência única e viciante.

A curva de aprendizado

Apesar de tantas camadas novas, Monster Train 2 não se perde em complexidade. O jogo é acessível para novatos, graças a uma boa curva de aprendizado e à ajuda do botão de desfazer. Para os veteranos, os sistemas mais avançados (como cooldowns e sinergias específicas entre clãs) entregam profundidade de sobra.

Vale destacar que as runs são longas (cerca de 45–60 minutos), o que pode cansar quem busca sessões rápidas. Mas quem entra de cabeça tende a nem perceber o tempo passar.

Apresentação e trilha sonora infernal

A estética do jogo é digna de elogios. A direção de arte aposta num 2D estilizado com traços que flertam com o grotesco e o divino ao mesmo tempo. Os inimigos têm designs memoráveis, e os novos clãs exalam identidade só pela paleta de cores e formato.

Já a trilha sonora é uma cereja metalizada no topo. Riffs pesados, batidas tribais, ecos celestiais – a música dita o ritmo das batalhas e cria uma imersão poderosa. Em momentos tensos, é quase como se o jogo estivesse torcendo junto com você.

Customização e progressão gratificantes

A personalização e o sistema de progressão também receberam uma atenção especial. O jogo apresenta o posto avançado, uma espécie de hub para upgrades permanentes, permitindo aprimorar clãs, desbloquear variações das Piras, customizar seu trem e acompanhar conquistas através do livro de registros. É o tipo de sistema que recompensa constantemente, tornando o retorno ao jogo após derrotas não apenas desejável, mas quase obrigatório.

Há também modos como os “Desafios Dimensionais” e uma modalidade infinita que expande ainda mais o escopo e a durabilidade do título. E claro, nada melhor do que competir com amigos em leaderboards compartilhadas para ver quem domina melhor os trilhos infernais.

Nem toda linha férrea é perfeita

Apesar dos inúmeros acertos, há pontos negativos que merecem destaque. Primeiro, Monster Train 2 é extremamente semelhante ao seu antecessor na base estrutural, e embora as novidades sejam muito bem-vindas, jogadores que já investiram muitas horas no original podem sentir que estão numa expansão robusta, e não numa verdadeira sequência revolucionária.

Além disso, apesar das melhorias na interface e nas explicações das cartas, alguns detalhes ainda são confusos, exigindo tentativa e erro em certas habilidades específicas. Nada crítico, mas é algo que quebra um pouco o ritmo especialmente nas primeiras horas.

Vale a pena embarcar?

Sem sombra de dúvida, Monster Train 2 é um retorno triunfal aos trilhos que tornaram seu antecessor memorável. Mesmo que não revolucione completamente a fórmula, cada pequena evolução reforça o brilho e a profundidade de um jogo que já era viciante. Para fãs do original, é mais uma centena de horas garantidas; para novos jogadores, é um convite perfeito para entrar nesse universo estratégico, frenético e deliciosamente envolvente.

No fim das contas, a grande verdade é: uma sequência não precisa reinventar a roda, desde que seja boa o suficiente para mantê-la girando. E nisso, Monster Train 2 é absolutamente impecável.

Minha passagem já está comprada, e recomendo que você faça o mesmo. O trem dos monstros não costuma esperar por ninguém.

Ah, e por último, mas não menos importante…. se você fez uso da droga lícita chamada Balatro, vai ficar bem feliz em ver um collab super bem implementado ao jogo! 

Monster Train 2 chega no dia 21 de Maio para PC e Consoles.

Monster Train 2

Muito Bom! - 8

8

Monster Train 2 é uma sequência que respeita sua base, mas não tem medo de evoluir. Com cinco novos clãs, cartas inéditas, mecânicas como salas personalizáveis e equipamentos, o jogo mantém o ritmo acelerado e estratégico que consagrou o original. O visual 2D estilizado e a trilha sonora pesada embalam batalhas viciantes e complexas, enquanto a progressão e os modos extras garantem longevidade. Mesmo com algumas semelhanças estruturais ao primeiro jogo, a profundidade tática e o frescor das combinações fazem desta uma das melhores experiências do gênero em 2025.