Moroi é um ensaio sobre um folclore muito específico que flerta com o grotesco admirável

Moroi é um daqueles jogos que parecem existir mais como experiência do que como produto. Desenvolvido por um pequeno estúdio independente, ele não faz concessões para ser acessível ou confortável. Ao contrário: seu maior compromisso é com o desconforto — seja ele mecânico, narrativo ou visual.

Logo nos primeiros minutos, percebe-se que não se trata de um jogo convencional. Moroi não explica suas regras, não oferece um tutorial claro e, muitas vezes, sequer deixa evidente quais são seus objetivos. A experiência é ancorada em uma estética que mistura elementos do grotesco, do surreal e do desconexo. O mundo é fragmentado, os ambientes parecem ruínas de algo que já não existe e os NPCs falam em enigmas, como se tentassem comunicar verdades que só fazem sentido para eles.

Esse desconforto, no entanto, não é um erro de design — é uma decisão estética. A proposta do jogo é exatamente fazer o jogador se sentir deslocado, impotente e até desconectado das lógicas tradicionais de progressão que estruturam a maioria dos games.

O combate segue essa mesma lógica. Embora apresente uma estrutura de hack-and-slash, é marcado por uma fisicalidade estranha, flutuante, que muitas vezes parece mais uma simulação onírica do que uma representação de luta. O peso dos ataques é difuso, e o feedback visual e sonoro das ações é sutil, quase etéreo. Isso contribui tanto para a imersão na proposta quanto para gerar frustração. Se a intenção era que o jogador nunca se sentisse totalmente no controle, ela foi cumprida com êxito.

A progressão, por sua vez, é quase sempre opaca. Não há indicação clara de quais caminhos seguir, nem de como desbloquear certos elementos. O jogo faz questão de abandonar qualquer ilusão de que está ali para guiar você. E, se por um lado isso cria uma experiência extremamente livre, por outro também exige um nível de paciência e disposição que poucos jogadores estão dispostos a oferecer.

No entanto, seria injusto dizer que Moroi se resume a ser apenas um exercício de desconforto. Existe uma intenção narrativa por trás desse caos. O jogo fala sobre punição, culpa, redenção — embora jamais de maneira direta. A ambientação remete a uma espécie de purgatório distorcido, onde o próprio ato de jogar se torna uma metáfora para tentar escapar de ciclos que se repetem indefinidamente. É uma obra que parece muito mais interessada em provocar reflexão do que em oferecer respostas.

Tecnicamente, Moroi é funcional, mas não isento de problemas. Durante a experiência, é possível notar quedas de desempenho em áreas mais densas e alguns bugs relacionados à colisão e à navegação dos personagens. A câmera, em especial, pode se tornar uma inimiga em momentos mais apertados, algo que se soma ao desconforto geral — novamente, difícil dizer se é uma falha ou parte do projeto.

Ainda assim, há beleza no caos. A direção de arte é coesa dentro de sua proposta, com cenários que parecem colagens de memórias fragmentadas, modelos que transitam entre o realista e o grotesco e um uso inteligente de cores dessaturadas e iluminação opressiva. O design sonoro merece destaque: em vez de trilhas tradicionais, o jogo opta por ruídos ambientes, ecos e sons metálicos que reforçam a sensação de isolamento e desorientação.

No fim das contas, Moroi é uma experiência que claramente não foi feita para agradar a todos. Na verdade, talvez não tenha sido feita para agradar ninguém. É um jogo que propõe uma ruptura com expectativas, que desafia a própria definição de diversão e que se posiciona, de forma quase hostil, contra as convenções de game design tradicionais.

Se você é alguém que valoriza experiências que quebram padrões, que provocam desconforto como ferramenta narrativa e estética, Moroi é, sem dúvida, uma obra digna da sua atenção. Mas, se espera uma experiência mais guiada, com feedback claro, progressão tangível e mecânicas refinadas, é muito provável que acabe abandonando este mundo antes de entender suas regras — ou sua total ausência delas.

No limite, Moroi não é um jogo sobre vencer, entender ou dominar. É um jogo sobre estar perdido — e aceitar que, às vezes, estar perdido é o próprio jogo.

MOROI

SCORE - 6

6

OK

Moroi é uma experiência desconfortável, críptica e deliberadamente opaca. Um jogo que rejeita qualquer expectativa de conforto, guia ou clareza, apostando em provocar o jogador tanto estética quanto mecanicamente. Sua proposta é válida, audaciosa e artisticamente coerente — mas também frustrante, desajeitada e, por vezes, punitiva demais. Não é um jogo para todos, nem tenta ser.