No coração de plataformas suspensas no ar em meio a uma vasta imensidão do infinito, uma fogueira reflete um mínimo de luz e estala, lançando um pouco mais de noção espacial deste mundo estranhamente quebrado. Neste cenário sombrio, as estrelas brilham ao longe, enquanto o caos reina. Como chegamos a esse ponto?
A quarta empreitada da Galvanic Games e a primeira sob a publicação da Devolver, ‘Wizard with a Gun’ nos leva a uma jornada de viagem no tempo através de um mundo devastado por anomalias mágicas e poderosas.
De muitas maneiras, o jogo oferece exatamente o que sua descrição sugere: uma experiência de sobrevivência em sandbox, que vai te remeter de cara jogos como Valheim e Don’t Starve. Com algumas ressalvas quanto à progressão e equilíbrio do jogo em alguns pontos, vamos explorar um pouco sobre o que ele tem a nos oferecer em um ano recheado de ótimos jogos.
Magia, Armas e Viagem no Tempo
No jogo, você assume o papel de um mago viajante armado enquanto o mundo é consumido pelas forças primordiais do Caos. No entanto, há esperança, uma vez que você descobriu uma dimensão de bolso chamada A Torre. Dentro da Torre, encontra-se um dispositivo místico capaz de voltar no tempo em pequenos intervalos, mas para fazê-lo funcionar, você precisará reunir diversas engrenagens mágicas espalhadas pelo mundo.
Com esta base de operações, você embarcará em expedições aos restos do mundo em ruínas, coletando recursos e criando itens. A partir daí você começa a se sentir dentro de um legítimo roguelike. Seu objetivo final é alimentar completamente a máquina da Torre para evitar o fim iminente do mundo.
Você precisará ir e voltar diversas vezes no tempo, melhorando seu equipamento e ganhando experiência para enfrentar uma terra mágica fragmentada, vítima das forças impiedosas do Caos. O Caos proporciona abominações que se manifestam como os terríveis Rifts do Caos e em uma variedade de criaturas ameaçadoras, desde lesmas colossais até sinistros globos oculares flutuantes.
É uma pena que o jogo por mais que tente colocar uma sensação de corrida contra o tempo, não consegue reverter isso de forma tão equilibrada ao longo do jogo. Pois você pode ir aos poucos percebendo que não precisa de tanta pressa, algo que o jogo tenta emular uma sensação parecida com isso.
Exploração e Descobertas
Wizard With A Gun oferece uma experiência de jogo tão viciante que é difícil de largar assim que você começa a jogar. A exploração é a chave para desvendar os segredos deste mundo mágico, e a cada ciclo de retrocesso no tempo, o mundo se reconstrói para revelar biomas diversificados, cada um com seus próprios habitantes e recursos distintos. Para acessar esses novos biomas e enfrentar os Cavaleiros, os chefes de cada região, os jogadores precisam coletar Engrenagens, componentes essenciais que alimentam a Roda do Chronomancer.
As engrenagens são facilmente identificáveis por um símbolo de engrenagem flutuante e podem ser adquiridos caçando criaturas específicas no mundo. Uma vez que os jogadores tenham coletado as engrenagens, estão prontos para enfrentar os Cavaleiros. Cada um desses inimigos se revela uma ameaça formidável, cada um com seu próprio estilo de ataque único. Os encontros com esses Cavaleiros são desafiadores e repletos de surpresas, o que me manteve em constante alerta e sem tempo pra mais nada além de focar naquele objetivo em questão.
Rebobine, Por Favor
Seja entre expedições ou após sofrerem derrotas, os jogadores sempre retornam à Torre. No entanto, assim como o mundo, a Torre também está danificada e fragmentada, com colunas quebradas e pisos faltando. Os jogadores, como magos armados, podem desbloquear equipamentos que os ajudam a reestruturar a Torre. Além disso, a Torre é o local para aprimorar suas habilidades mágicas.
As primeiras “rebobinadas” no tempo são divertidíssimas. A sensação de descoberta até o segundo chefe é algo que se mantém equilibrada e divertida em todos os aspectos. Mas infelizmente para por aí. O jogo perde bastante do seu charme a medida em que você progride e começa apenas a se sentir convidado a se limitar apenas a matar o próximo chefão, quando o próprio jogo tem mecanicas que poderiam ser bem mais exploradas, como a questão de sobrevivência e de construção de base, que se tornam superficiais à medida que o tempo passa.
Só mais um Rogue Like?
Wizard With A Gun se destaca de outras experiências de sandbox semelhantes em dois aspectos únicos. O primeiro é a presença constante do Caos. Cada vez que você sai da Torre, um cronômetro começa a diminuir. Quando ele atinge zero, o mundo começa a entrar em colapso, com meteoros caindo e o terreno desmoronando. Para estender esse tempo, você precisará localizar e destruir os Portais do Caos.
O segundo aspecto único é a magia e as armas. A maior parte dos recursos que você coleta é destinada à pesquisa e ao aprimoramento de diferentes tipos de munição mágica para suas armas. Essas munições variam desde danos diretos, como balas de fogo, gelo e relâmpagos, até efeitos indiretos, como óleo, feitiço e veneno.
O jogo faz um excelente trabalho ao incorporar esses elementos mágicos no combate, criando um ambiente caótico e imersivo. Elementos interagem entre si, como o petróleo que pega fogo ou a eletricidade que se move através da água. Além disso, os inimigos podem ser derrotados de maneiras diferentes, dependendo do tipo de munição utilizada. O combate requer estratégia e adaptação constante.
Uma Aventura em Ambientes Variados
À medida que você joga, desbloqueia diferentes biomas, como planícies, pântanos venenosos, montanhas geladas e desertos quentes. Embora esses ambientes possam parecer comuns, eles afetam significativamente a jogabilidade. Por exemplo, eletrocutar a água em um pântano pode eliminar sapos venenosos, e usar o calor de uma fogueira a óleo pode afugentar o frio nas montanhas, como já mencionado.
No entanto, a única parte que pareceu um pouco incompleta foram os riscos ambientais. Se você não tiver certos encantamentos ou poções, sofrerá danos contínuos devido às condições climáticas perigosas. No entanto, durante o jogo, esses efeitos não parecem ter um impacto significativo.
Desafios de Pesquisa e Narrativa Sutil
A progressão da pesquisa em Wizard With A Gun é única, pois você só pode desbloquear atualizações de armas e armaduras examinando inimigos. No entanto, o scanner é lento, tem alcance limitado e pode ser interrompido por ataques inimigos. Além disso, a pesquisa também é usada para criar plantas de estruturas que podem ser recriadas na Torre, mas essa função tem um efeito limitado na jogabilidade.
A narrativa principal do jogo é sutil, com personagens e história em segundo plano. No entanto, o mundo apresenta uma tradição e humor interessantes, típicos dos jogos da Devolver Digital. A estrutura do loop temporal do jogo torna desafiador o desenvolvimento de personagens significativos e histórias mais profundas.
Uma Aventura Desequilibrada, mas Divertida
Wizard With A Gun equilibra perfeitamente a ação mágica com a criação estratégica, mantendo o interesse dos jogadores em constante evolução, mas apenas até um certo ponto, com já citado anteriormente neste texto. Os recursos encontrados no jogo mantêm sua relevância exclusivamente ao combate, à medida que os jogadores aprimoram suas habilidades e poderes mágicos. O material coletado no início da aventura continua sendo valioso para criar itens de nível superior, mas não que passe muito de ser meramente cosmético. Se você busca ter esse tipo de role play, pode se sentir convidado a tornar a jornada uma busca contínua por descobertas e aprimoramentos. Mas caso contrário, o jogo vai se mostrando apenas um boss rush padrão.
Wizard With A Gun já está disponível para PC, Xbox Series e PlayStation 5, com um lançamento planejado para o Nintendo Switch em breve.