Resident Evil 4 Remake se tornou um dos lançamentos mais elogiados do ano.

Os fãs que não se importam em falar a real sobre suas franquias favoritas devem concordar que cafona é um termo que se enquadra bem ao enredo de Resident Evil 4, mesmo sendo um dos mais famosos (se não for o mais famoso) título da saga.

Pedras que rolam no intuito de esmagar o protagonista, donzelas aparentemente indefesas e em perigo, personagens que carregam uma aura cafajeste no melhor estilo Han Solo, vilões caricatos com o desejo de dominar o mundo, e é claro que eles querem começar pelos EUA.

Em 2005 os fãs reencontraram o ex-policial do Departamento de Polícia de Raccoon City, atualmente um agente do governo, em um clichê que poderia ser facilmente um filme dos anos 90, resgatar a filha do presidente.

Leon Scott Kennedy, que já entende bem o que é passar um inferno na terra, vai até uma aldeia na Espanha, onde encontra uma recepção não tão agradável, quando um morador tentar dar cabo do herói.

A história como todos lembram, começa em uma cabana no meio da floresta, onde desaparecimentos foram reportados, qualquer semelhança com O Massacre da Serra Elétrica não me parece nenhum pouco absurdo, referência que retornou no sétimo título da franquia.

Leon é bastante querido, mas sinto que cresceu no coração dos fãs após seu retorno em Resident Evil 4 (2005).

Jill e Chris ainda eram os mais amados, mas a Capcom tinha planos para Leon, que nos rendeu um dos maiores clássicos que tivemos, que segue até hoje sendo elogiado pelos jogadores.

Dezoito anos depois, retomamos o controle do agente, no que será exemplo de como um clássico pode ser refeito, sem perder suas raízes e com um toque que o torna melhor, Resident Evil 4 Remake é o amadurecimento de um clássico.

Leon Scott Kennedy

O herói da história, com uma única e nem um pouco simples missão, resgatar a filha do presidente, claro que para isso eles mandam um profissional, Leon não deixou de ser o herói que ri na cara do perigo, diferente do clássico isso fica ainda mais explícito.

Entretanto, o peso de traumas carregados por anos, horrores vivenciados em Raccoon City e o brutal treinamento, o tornam mais verdadeiro.

Pois ao ver um homem comum esquivar de lasers, escalar gigantes, correr de pedras e matar salamandras com arpões.

É normal que tenhamos ele com um ser invencível, que não irá parar por nada, um herói perfeito.

Aqui Leon passa a sensação de determinação, cumpre o papel de herói, mas deixa claro que respeita seu passado obscuro.

Ao começar deixando claro seu desejo de que seja diferente, que não tenha que perder, determinação é uma arma poderosa.

Vemos ele acabando com criaturas bizarras em um momento, noutro, encoraja uma jovem, simples ações que o tonam mais herói.

Leon segue com suas tentativas de humor duvidoso, realizando comentários cômicos de uma situação assustadora, como cuspir sangue.

As memórias de Leon

As memórias estão presentes em Leon, isso porque Resident Evil 4 Remake manteve os acontecimentos de Resident Evil 2 Remake.

A faca inicial poderia ser de cara a do clássico, mas é a que Marvin entregou, quando era um novato.

A arma inicial carrega o sobrenome de Robert Kendo, sobrevivente de Raccoon City, devastado pelo que ocorreu com sua filha.

Pessoa que cruzaram a vida de Leon e seguem com ele, mesmo no terrível contexto epidêmico causado pela Umbrella Corporation.

Isso torna ele um personagem ainda mais apto para receber o carinho dos fãs, sai o tom mulherengo.

Entra o herói que também precisa de ajuda as vezes.

As escolhas de narrativa tornam Resident Evil 4 Remake uma aula de como respeitar uma história amada por tanto tempo.

É como refazer nosso sentimento pelo jogo, tornando ele um pouco mais crível (na medida do possível).

Seremos levados em uma aventura conhecida, que entrega a mesma diversão de antes, e com muito mais profundidade no roteiro.

Se isso causa dúvida, jogue o remake, compare com o clássico e veja lacunas no caráter dos personagens, faltava algo.

E é claro que isso não fica limitado apenas ao protagonista, os vilões seguem caricatos, mas um deles chama atenção.

Resident Evil 4

Jack Krauser e sua frustração

Antes de mais nada, eu sei que Krauser era um maluco com sede de poder, corrompido pela promessa de poder.

E que aqui ele anda é um maluco com sede de poder.

Por outro lado, Resident Evil 4 Remake quis explorar o lado traumático do antigo major, assim como o de Leon.

Mas em Krauser a situação é infinitas vezes pior, ele deseja jogar no novato toda frustração por perder seus companheiros.

Traumas que fortaleceram um, jogaram de vez o outro no abismo.

A sensação é de que ele deseja que Leon sucumba como ele, que não entende como o “novato” segue firme.

Krauser não se importa com o plano de dominação mundial, deseja apenas a sensação de poder absoluto, o soldado perfeito.

O orgulho sentido ao ser derrotado por seu antigo pupilo, corrobora a saudade do antigo pelotão tanto citado na batalha.

O que me faz acreditar ainda mais nesse cuidado extra, é que ao final do confronto, ganhamos faca do clássico.

Isso aparenta um recomeço, até mesmo uma forma de presentear os admiradores do game original, cuidando de algo precioso.

As mudanças seguem para o motivo de Leon ter sido convocado, a personagem raptada por Krauser, peça central da história.

Sua mudança, assim como as demais presente no jogo, enriquecem a narrativa, tornando o jogo mais sério como um todo.

Ashley Graham, a filha do presidente.

Se antes o maior objetivo da Ashley fosse ser apenas resgatada, Resident Evil 4 Remake mostra como construir personagens femininas.

Ela ainda cai no clichê “ser capturada algumas vezes”, mas encontra equilíbrio, agregando para a história mais que um simples resgate.

Seja com uma coragem adquirida no decorrer da obra, contrastando com o pavor de ser dominada pela plaga.

Ou com fugas e ajudas dadas ao seu protetor, Ashley larga o caminho simples em que foi apresentada, tornando-se melhor.

É possível lembrar da Ashley clássico e citar algo que não sejam os pedidos de ajuda, resgates em toda altitude.

Falhas em cada tiro mal calculado, e bem depois, a cena com a escavadeira, obviamente não citarei o conteúdo machista.

Ashley carrega o medo de quem será dominada pela plaga, as mudanças físicas no jogo são cereja do bolo.

Os olhos com manchas cada vez mais aparentes, as veias em destaque por conta da doença, as tosses, comportamento agressivo.

Tudo que precisamos para construir uma sensação de luta corrida contra o tempo.

Além de ter participações em partes tensas de gameplay, mesmo que sejam poucas, são algo a mais para a personagem.

Até mesmo o companheiro improvável encontrado durante a missão, tem sua história mais bem trabalhada, além de gerar alívio cômico.

O elegante e simpático Luis Serra.

Resident Evil 4 Remake, a soma perfeita de terror + ação

Sabemos que a franquia passou por muitas mudanças, apostando em uma ação, esta que acabava por superar o terror.

A nova versão do jogo juntou o melhor dos dois, temos ação na medida, e uma atmosfera aterrorizante.

Não teremos Leon esquivando de lasers (uma pena), mas teremos ele contra um exército de Ganados armados até os dentes.

Essa ação não se limita apenas na parte da ilha, termos bons conflitos nos mapas da vila e do castelo.

Mas teremos as cenas que trazem o tema do jogo “Survivor Horror”, os sustos reservados são só o começo.

Os cenários noturnos, um regenerador nos observando fora da sala, ou seu vulto passando em um canto escuro.

O encontro com o garrador em seu calabouço, os novistadores camuflados, e claro, a trilha sonora impecável.

Pequenos detalhes que fazem toda diferença para que o jogo seja marcante.

Um dos inimigos mais assustadores de toda a saga.

Resident Evil 4 Remake entra para lista de como deve ser um remake, melhorando as coisas boas, além de acrescentar.

Personagens com maior profundidade, sem deixar de lado a barreguice, e goste você ou não, é Resident Evil puro.

E quem sai ganhando é o jogador, seja ele fã ou não da saga, com um excelente jogo para todos.

Resident Evil 4 segue em minha lista de favoritos, e revisito sempre que posso, mesmo depois de terminá-lo inúmeras vezes.

E o remake chega para renovar este maravilhoso e verdadeiro clássico dos jogos de vídeo game.

E mesmo que o tempo passe, tenho certeza de que algum jogador, cedo ou tarde, não importa o jogo, dirá do nada:

¡Detrás de Tí, Imbécil!