A cada dia que passa, os jogos estão encarecendo. Seus desenvolvimentos andam demorando mais e mais, as equipes de produção ficam maiores e seus orçamentos batem o céu. Com o avanço das tecnologias e poderio gráfico, jogos que apostam no ultrarrealismo exigem mais equipes, melhores hardwares e softwares. Dessa forma, é natural (embora não necessariamente aceitável) que os jogos comecem a atingir valores na casa das centenas de milhões de dólares.

Ora, se digo que é natural, embora não aceitável, é porque sabemos, tristemente, que um jogo de 300 milhões de dólares poderia facilmente custear o desenvolvimento de cinco ou seis obras de médio porte. Sem falar, claro, na quantidade de obras indies que poderiam sair, em doses cavalares, com tal quantia.

Mesmo assim, a indústria dos jogos mirou no cinema. Se no meio audiovisual temos os filmes blockbusters, há um conceito similar para os jogos: Triple A. Jogos com essa marca do A triplicado, em termos de gastos com a produção, são imensos. São jogos da escala de um GTA V, de um Resident Evil Village, de um Mortal Kombat 1 (o de 2023), um The Last of Us Part II, etc.

Cada vez mais, como vemos todos os dias, a indústria dos jogos movimenta exacerbadas quantias financeiras. De dar inveja à própria Hollywood, jogos de videogame conseguem, em oportunidades cada vez maiores, até trazer estrelas de Hollywood. Ora são atrizes e atores cedendo sua voz para algum personagem, ora são seus rostos, ora as duas coisas.

Assim, naturalmente, é comum que o investimento seja também progressivamente maior.

Com grandes orçamentos…

Quando o Exterminador do Futuro 2, lançado em 1991, ultrapassou a marca de 100 milhões de dólares em seu orçamento, aquilo aterrorizou muitos produtores. Atualmente, e levando-se em conta apenas uma estimativa simplificada da taxa média de inflação de 2%, esse valor de 100 milhões em 1991, hoje, seria o equivalente aproximado a 203.5 milhões de dólares em 2023.

Bom, se duzentos e três milhões de dólares, em 2023, parecem ser um orçamento gigantesco para um filme inovador no quesito dos efeitos especiais — que fomos passando a chamar de efeitos digitais —, saibam que hoje, muitos filmes, mesmo que não nos marquem tanto quanto o Exterminador do Futuro 2, são feitos por esse mesmo valor. Ou até bem mais.

Em números relativos, recentemente, ficamos sabendo que o orçamento da série A Casa do Dragão (HBO) também foi na casa dos 200 milhões de dólares. Como foram dez episódios ao total, o custo variou em média de 20 milhões por episódio.

Contudo, uma série assim pode ser consumida em cerca de dez horas. Um filme, mesmo o que seja bem maior que o padrão dos 90-120 minutos, custa-nos três horas das nossas vidas. Por outro lado, remando contra toda e qualquer proposta de fazer mais com/por menos, a indústria de jogos, mesmo em meio a uma enxurrada de lançamentos anuais disputando as atenções de milhões de jogadores, lança obras que levam 15, 20, 30, 40, 50 ou centenas de horas para serem finalizadas.

Ou seja, corre-se um sério risco: o de seu produto, de investimento multimilionário, ser deixado de lado pelos excessivos números de horas que exige de nós. Mesmo assim, corajosamente ou não, os jogos estão seguindo em frente. Como exemplo, temos o caso de Marvel’s Spider-Man 2.

… vêm grandes responsabilidades

Em uma série quase que interminável de documentos vazados criminosamente, o grupo hacker Rhysidia voltou a praticar doxxing com a Insomniac Games. Se, na semana passada, o alvo foi a divulgação da posse de arquivos sobre o jogo de Wolverine e de funcionários da empresa, dessa vez, os atos criminosos foram imensamente mais prejudiciais e amplos.

O grupo que atacou ciberneticamente a Insomniac Games liberou informações sigilosas do calendário de lançamentos da desenvolvedora pelos próximos dez anos. Além disso, já há vídeos de gameplay de Wolverine na internet, bem como informações concretas sobre o elenco de dubladores do jogo e ainda, pasmem, todo o desenrolar narrativo da história do game. Com direito à descrições concretas até mesmo das cenas finais da obra.

No mais, algo que também se destaca é o vazamento do orçamento dos jogos da Insomniac para os próximos anos. São números assustadoramente altos até mesmo para uma realidade de anos à frente na indústria. Para o segundo jogo do Homem-Aranha, por exemplo, os custos de produção bateram os 315 milhões de dólares. São valores muito mais maiores que filmes como As Marvels (274 milhões) ou Guardiões da Galáxia Vol. 3 (250 milhões) ou ainda Barbie e Oppenheimer somados (100 e 151 milhões de dólares, respectivamente).

E ora, se o vazamento do orçamento de Spider-Man 2 não foi o suficiente, saibam que o terceiro jogo, projetado para sair apenas em 2028, possui custo planejado de 385 milhões de dólares, saindo dividido em duas partes.

Marvel’s Wolverine, o jogo inédito que a Insomniac anunciou em 2021, está orçado em 305 milhões de dólares de produção. Para efeitos de comparação, Star Wars Episódio 7: O Despertar da Força, lançado em 2015, custou 306 milhões de dólares, tendo arrecadado mais de 2 bilhões nas bilheterias ao redor do mundo.

A tríade dos jogos

Lidar com jogos é tratar, antes de tudo, com o terreno do digital. Se filmes e séries, mesmo os de orçamentos multimilionários, ainda se dão ao luxo de contar com sets fabricáveis em poucos dias ou semanas, ou ainda contar com cenários naturais que bastam um aluguel de diárias de uso junto às prefeituras municipais de cada cidade, de forma distinta e inversa, cada jogo é algo 100% digital. Mesmo os atores ou atrizes que fazem captura de movimento estão debaixo de roupas e apetrechos para facilitar o processo de digitalização de suas faces e corpos, ou ainda a modulação digital das suas vozes.

Em uma indústria que cada vez mais preza pelo fotorrealismo, restam aos jogos engatarem a marcha da evolução gráfica. Contudo, para tanto, e como dito no primeiro parágrafo do texto, necessita-se de mais dinheiro. Mais dinheiro para equipamentos de ponta, tecnologias de alta performance e profissionais de destaque no mercado.

Além disso, há ainda outra coisa que a tríade equipamentos, tecnologia e recursos humanos necessita: tempo. Para desenvolver tudo que vemos, é necessário se haver tempo para o desenvolvimento. Com isso, a tríade precisa seguir funcionando e seu custo para colocar o projeto em prática é alto, altíssimo.

O jogo de um bilhão de dólares

Chegará um tempo em que teremos algum jogo que alcançará o custo de 1 bilhão de dólares em orçamento. Devs irão investir anos de suas vidas que poderiam utilizar para a criação de um projeto menor, possivelmente que desse até mais reconhecimento para eles.

O que temos, ao fim e ao que tudo indica, é que mesmo sendo um ramo da indústria cultural mais recente que o cinema, as séries ou a música, os jogos caminham para alcançar um patamar surreal de gastos, de tempo de produção e de profissionais envolvidos.

Corremos o risco de ver, nos próximos tempos, um jogo sendo anunciado para 10 ou 15 anos adiante, que custará 1 bilhão de dólares e terá 1500 ou 2000 pessoas na equipe de desenvolvimento.

Quem viver, verá (e jogará depois de uma década e mais um tanto)…