O fechamento da Monolith Productions no início de 2024 marcou o fim de uma era para uma das desenvolvedoras mais icônicas da indústria. Com três décadas de história, a empresa deixou um legado repleto de clássicos como F.E.A.R., Blood e No One Lives Forever. Porém, além dos sucessos conhecidos, relatos coletados junto a ex-funcionários revelaram detalhes sobre projetos nunca divulgados — entre eles, Asylum, um jogo de horror planejado para o polêmico periférico 64DD do Nintendo 64.
A revelação partiu de Nick Newhard, co-criador e programador-chefe do clássico Blood (1997), em entrevista exclusiva. Segundo ele, Asylum teria como cenário um manicômio dominado por assassinos serials com motivações grotescas, como o “Pintor de Sangue”, que usava cadáveres como telas para suas obras. A premissa, desenvolvida no final dos anos 1990, é apontada como uma possível influência para Condemned: Criminal Origins (2005), título da Monolith para Xbox 360 que explorava investigações criminais em ambientes sombrios.
“Na época, imaginei um detetive desconectado do universo do Batman infiltrando-se em um asilo controlado por vilões à altura do Coringa — serial killers com psicopatias extremas”, explicou Newhard. “Embora não haja confirmação oficial, é possível que elementos dessa ideia tenham inspirado Condemned.”
O Desafio de Adaptar um Horror para o 64DD
Inicialmente, Asylum não foi concebido para a Nintendo. O projeto era uma entre diversas propostas internas da Monolith sem editora interessada. A ambição de colaborar com a gigante japonesa, porém, levou a equipe a adaptar a ideia para o 64DD — periférico de discos magnéticos lançado apenas no Japão, hoje lembrado como um fracasso comercial e um desafio técnico para desenvolvedores.
“O 64DD era notoriamente complexo”, relembrou Newhard, referindo-se ao dev kit recebido pela equipe. “Sem um publisher definido, surgiu a oportunidade de propor algo à Nintendo. Asylum parecia adequado, mas, em retrospecto, talvez Draedon [outro projeto cancelado] fosse uma escolha mais estratégica.”
A parceria, porém, esbarrou em divergências criativas. A Nintendo da era N64 evitava conteúdos violentos ou maduros, e Asylum — com sua temática psicológica e violência explícita — não se alinhava ao perfil da marca. O projeto foi abandonado, somando-se ao histórico conturbado do 64DD, que teve apenas nove jogos lançados antes de ser descontinuado.
Um “What If” da Indústria dos Games
Apesar de nunca ter saído do papel, Asylum simboliza um período de experimentação audaciosa na Monolith. Seu conceito antecipou tendências do horror psicológico moderno, enquanto sua ligação com o 64DD o transforma em uma peça de curiosidade histórica — afinal, como seria um jogo de terror em um perifético que mal deixou o Japão?
“O 64DD já estava fadado ao fracasso, e Asylum provavelmente teria se perdido nele”, ponderou Newhard. “Mas é intrigante pensar como ideias daquela época ecoaram em projetos posteriores.”
