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Review: Jagged Alliance 3 é uma galhofagem maravilhosa

Antes de falar sobre Jagged Alliance 3, precisamos entender do que se trata Jagged Alliance. Essa é inclusive uma pergunta que nem os maiores fãs conseguem responder. Jagged Alliance teve uma trajetória intrigante como uma franquia, buscando encontrar seu lugar na indústria de jogos e definir que tipo de barulho ele queria fazer. Partindo de suas origens humildes como um jogo RTS, evoluiu para uma mistura de ação e elementos táticos, por vezes incerto sobre sua direção e melhorias necessárias para se tornar uma franquia que saísse do nicho de um gênero que já é nichado por si só.

Trailer de lançamento

No entanto, com o lançamento de Jagged Alliance 3, a franquia encontra seu caminho novamente, apresentando uma experiência madura e moderna complementando perfeitamente o legado estabelecido por seu antecessor, Jagged Alliance 2.

Embarcando nesta nova empreitada, os desenvolvedores criaram um experimento ambicioso, fundamentado nas bases estabelecidas há 23 anos por Jagged Alliance 2. O diretor dos dois primeiros jogos, Ian Currie, assume o comando como roteirista deste novo capítulo. A essência continua toda ali, toda narrativa de Jagged Alliance 3 está perfeitamente conectada com nossa nostalgia dos filmes de ação que assistíamos na Sessão da Tarde.

UMA ODE AO CINEMA OITENTISTA

Jagged Alliance 3 é um jogo que, assim como seus antecessores, presta homenagem ao cinema dos anos 80, oferecendo uma experiência emocionante e repleta de ação, sem receio de explosões ocasionais ou situações absurdas. A premissa do jogo é você ser a “Catho Online dos mercenários”, procurando e contratando os mais peculiares, caricatos e implacáveis mercenários do mundo e atuando como eles nas missões. Encarregados de servir o governo deposto de Grand Chien, um estado caribenho com ares de Far Cry, os jogadores encontrarão situações inimagináveis e exageros, além de ocasionais explosões. Quer dizer, inimagináveis para o nosso cotidiano dentro da nossa realidade, mas completamente clichê e brilhante como em qualquer filme de guerra dos anos 80.

Jagged Alliance 3 evita explícitas conotações políticas voltadas para a realidade, que é uma pena, pois por se tratar de um jogo que em sua essência é sobre política, mais de 20 anos depois do último jogo, acho que o estúdio já poderia se sentir seguro o suficiente para isso. Em vez disso, o jogo concentra-se em uma ditadura dominada pelo exército, onde uma organização americana lucra com a situação. Embora o jogo não aprofunde narrativas políticas, ele se torna um playground para habilidades táticas e estratégicas, onde o poder reside dentro dos personagens.

PERSONAGENS DE ARREBENTAR A BOCA DO BALÃO

Com uma diversificada lista de mais de 20 mercenários para escolher, os jogadores podem formar esquadrões com pelo menos três membros, sendo possível aumentar esse número para cinco ou mais, dependendo do talento tático de cada um. Cada mercenário é hilariamente absurdo e clichê, o que adiciona humor e leveza à jogabilidade viciante de Jagged Alliance 3. Conforme os mercenários vão e vêm, o jogo oferece uma criação de personagens, injetando sangue novo na equipe e mantendo a experiência dinâmica.

Os mercenários são divididos em três classes: Scouts, Riflemen e Supports, cada um com habilidades e capacidades únicas que devem ser coordenadas estrategicamente com o restante do esquadrão. Os jogadores devem recrutar mercenários com base em seus pontos fortes e fracos, além de sua acessibilidade financeira. Os especialistas podem ser caros, mas são extremamente precisos, enquanto os mercenários “mortos” não pedem muito dinheiro, mas entram em combate com pistolas de brinquedo.

E por falar na parte financeira, eu aprendi da maneira mais dolorosa possível que eu deveria ter tomado muito mais cuidado durante a criação inicial de personagem e recrutamento dos primeiros mercenários. Fui com muita sede ao pote, gastei mundos e fundos para conseguir contratar os melhores logo de cara. Algumas semanas depois começou a realidade do jogo se parecendo muito com a minha. Eu já não sabia mais lidar com o meu controle financeiro e estava no Serasa há muito tempo e isso dificultou muito minha jogatina.

QUE WINDOWS 98 É ESSE?

Jagged Alliance 3 adota um menu um tanto desagradável, denso e desafiador de navegar, lembrando os jogos clássicos. Mas claro, essa é uma decisão criativa claramente idealizada para te imergir dentro da proposta do jogo, que é parecer um título dos anos 1990. Embora não agrade a todos os gostos, ele pode deixar muitos fãs nostalgicos como eu com um sorriso no rosto. O menu mostra os mercenários disponíveis para contratar, e o dinheiro tem um papel crucial na decisão de quem recrutar. O dinheiro pode ser obtido no mapa do jogo ou através de apólices de seguro de cada herói, acrescentando uma camada de gerenciamento financeiro à experiência.

Navegar pelo mapa, descansar ou explorar para obter dinheiro incorre no custo do “tempo perdido”, já que os mercenários são pagos diariamente. As características únicas e personalidades de cada mercenário devem ser consideradas ao lidar com eles, adicionando um forte elemento de interpretação de papéis ao jogo. A interação com os NPCs vai além das simples missões, pois os jogadores se deparam com escolhas morais que podem ter consequências, refletindo a complexidade da revolta civil na ilha.

“Yippee ki yay, motherfocker!”

O sistema de combate do jogo é um deleite tático para fãs do gênero. É uma verdadeira imersão em cenas de filmes dos brucutus dos anos 1980. Aqui temos um combate tático por turnos, mas com um toque fascinante: a roda de ataque. Essa funcionalidade permite que os jogadores escolham partes específicas do corpo para mirar, levando em conta a armadura do inimigo e a precisão. Esse elemento estratégico acrescenta profundidade à jogabilidade, permitindo abordagens criativas para os combates. Um detalhe importante: ao longo da minha jogatina, eu instalei um mod cujo mostra a precisão correta de chances de acerto em cada membro, pois acho muito mais equilibrado jogar dessa forma. Ou talvez eu apenas seja um preguiçoso muito fã de XCOM e Fallout 1 e 2.

Outro detalhe importante é a capacidade de usar granadas e arrombar portas ou janelas, que adiciona estilo visual ao combate, mas seu impacto na jogabilidade é um pouco limitado. O jogo tenta incorporar elementos de RPG’s mais imersivos, mas falha em vários aspectos disso.

Embora o jogo ofereça a opção de abordagens furtivas, ela não é executada tão bem quanto em um título XCOM. Jagged Alliance 3 mantém um sistema de turnos em tempo real, semelhante aos jogos anteriores da franquia, exigindo que os jogadores pensem rapidamente. Embora não haja uma pausa tática, o jogo consegue cativar os jogadores com seus confrontos diretos e empolgantes. Mas claro, uma rápida passada no Steam Workshop já te permite usar a “pausa tática”.

UM JOGO NICHADO E NADA ACESSÍVEL

Jagged Alliance é difícil. Isso é algo que qualquer um que jogou algum dos jogos antecessores espera de um novo título da franquia. Jagged Alliance 3 incorpora muitas coisas que revitalizaram o gênero ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que continua com muito pé no chão ao saber sobre o legado da franquia.

Jagged Alliance 3 logo de cara te avisa que o jogo é punitivo, não é nada fácil, mas que, se você desejar, você pode fazer o seu save cheio com várias modificações que permitem tornar a experiência mais fácil. O problema é: ao ativar tais modificações ainda no menu inicial antes de começar um novo jogo, você verá muitas coisas ao longo do jogo que você se sentirá um verdadeiro Deus. O jogo claramente não foi programado para experiências mais acessíveis. A imersão e sentimento de medo ao tomar alguma decisão vai embora rápido e isso não entrega uma experiência digna da franquia.

Mas não, não quero aqui atirar pedras nos desenvolvedores, até porque apenas apontei o dedo e parei para pensar durante alguns minutos sobre como poderia ser possível incorporar uma jogabilidade acessível, mas que condissesse com o espírito da franquia. Falhei miseravelmente. Talvez essa seja a forma que Jagged Alliance seja um jogo difícil de se explicar e colocá-lo em um determinado gênero. Mas tudo bem. Quase 3 décadas depois eu já aceitei que Jagged Alliance é um das franquias já feitas. E com muito orgulho disso, ela talvez seja a primeira delas.

VALE A PENA?

Para resumir, Jagged Alliance 3 pode ter algumas arestas soltas, mas utiliza habilmente perplexidade e galhofagem para proporcionar uma experiência única e envolvente. Com seu elenco diversificado e peculiar de mercenários, elementos cativantes de interpretação de papéis e um sistema de combate dinâmico, o jogo alcança um equilíbrio delicado que certamente encantará os entusiastas do gênero. Seja navegando pelo mapa do mundo ou liderando esquadrões de mercenários em ação, o jogo conhece suas forças e garante que os jogadores tenham uma experiência emocionante ao longo de dezenas de horas.

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