MULLET MADJACK: DOPAMINA EM VIDEOGAME! | REVIEW

Videogame é uma droga. Se você passa horas olhando para uma tela segurando um joystick ou controlando um mouse e teclado, você está se drogando. Mas relaxa, é da boa. Da melhor qualidade: DOPAMINA!

A dopamina é a substância química que transforma cada vitória em jogos de videogame numa explosão de euforia, fazendo você se sentir como um herói invencível por ter encontrado aquele item raro ou derrotado um chefe. Sabe quando você recebe um elogio de alguém e isso te faz sentir feliz? Pois é, essa é a dopamina. Ela é o traficante de prazer do seu cérebro, viciando você em cada “parabéns!” virtual até que você esteja preso num ciclo de recompensas digitais, como um hamster numa roda de pixels e promessas de glória eterna.

Mullet MadJack é um novo jogo independente brasileiro publicado pela Hammer 95, que faz a dopamina chegar ao seu ápice a cada 10 segundos, ou menos. Sim, basta 10 segundos controlando um personagem durão digno de um filme de ação da Sessão da Tarde, que a dopamina vai consumir seu cérebro e fisgar você por horas em um looping extremamente divertido. 10 segundos também é o tempo de vida que você terá para se manter vivo. Quer continuar vivo? acerte a cabeça ou os testículos de robôs e humanóides para injetar mais dopamina e continuar sua saga.

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Antes de falar tecnicamente de Mullet MadJack, preciso elogiar o quão bem lapidado e certeiro o jogo é. Em um cenário atual de jogos onde os desenvolvedores muitas vezes adicionam mecânicas complicadas demais, ou não tão práticas, para se destacarem, acabam que por sua vez, confundindo os jogadores. No entanto, em Mullet MadJack, isso é o oposto.

Combinando um gameplay de boomer shooter, com estética cyberpunk e anime dos anos 80/90, baseado em progressão roguelike e com uma mecânica onde seu personagem só tem 10 segundos de vida e precisa matar inimigos para manter o cronômetro nesse intervalo de tempo, Mullet MadJack se destaca por sua execução única e coesa de toda essa mistureba.

Ao ver algum trailer e gameplay do jogo, você pode até se sentir preocupado devido à freneticidade, mas imagine mais como se fosse uma dança. Se você tem a ginga, você não perde nunca o compasso. Atirar, chutar, deslizar e enfiar a faca na cabeça de robôs é mais divertido e simples do que você pensa.

Situado em um futuro onde robôs bilionários assumiram o controle, esses “robômilionários” contrataram moderadores, como Jack, o personagem principal, para fornecer à IA um suprimento constante de dopamina, mantendo-a viva. Isso é feito matando outros robôs. Se Jack não matar nada em 10 segundos, ele morre. Além da sobrevivência básica, sua principal motivação é salvar uma princesa presa em um dos andares da torre. 

Aqui você é contratado para entreter. No futuro de Mullet MadJack, tudo é transmitido e tudo é moeda de entretenimento para o chat de algo que se assemelha a Twitch. Os moderadores proíbem os bots de salvar na transmissão, e a IA são os espectadores. Com uma apresentadora carismática digna de um bom anime, você recebe instruções para continuar mantendo-se vivo. Quer dizer, nem sempre, já que ela quer entretenimento, então já sabe né? Lembre-se: você só tem 10 segundos de vida.

A narrativa de Mullet MadJack pode não ser o foco principal do jogo, mas serve bem ao seu propósito. Em homenagem ao clássico Mario, a cada nível completado, a princesa parece estar esperando por você – mas é apenas uma armadilha. Ela subiu para o próximo andar, forçando você a seguir em frente. Essa trama simples é uma motivação narrativa suficiente para continuar a busca pela princesa. Apesar do ponto alto do jogo ser sua jogabilidade rápida e frenética onde você está a todo momento à beira da morte, o jogo ainda brilha com seu humor ácido e com um toque de crítica construtiva ao nosso próprio mundo real.

Em termos de gameplay, Mullet MadJack entrega uma experiência de corredor frenético comparável com Post Void – um jogo independente lançado em 2020 –, mas agora com a possibilidade de realizar “GLORY KILLS”, no estilo de Doom Eternal, além de chutar robôs contra o cenário, como ventiladores gigantes e fios expostos. Você também pode encontrar máquinas de venda automática para desfrutar de seus sucos deliciosos, e que tal jogar a lata nos testículos inimigos? Entre cada nível, você terá a chance de escolher alguns power-ups para tornar o próximo andar mais divertido e fácil de enfrentar, como todo bom roguelike.

A variedade de armas e upgrades proporciona uma boa troca de gameplay ao longo de cada run, já que você se sente convidado a testar uma por uma, seja o bom revólver, espingarda, fuzil, metralhadora e uma katana. Cada uma dessas armas é recheada por vários upgrades. Ao jogar de katana, senti como se estivesse por um momento jogando uma versão em 3D de Katana Zero. O combate frenético corpo-a-corpo é extremamente gratificante também em Mullet MadJack.

Os andares consistem em corredores retos com alguns atalhos e desvios. A cada 10 andares, você enfrenta um chefe e ganha um checkpoint. No entanto, a progressão é marcada pela introdução de novos tipos de inimigos, como robôs com escudos ou espingardas gigantes. Essas mudanças, embora pequenas, são bem-vindas, especialmente considerando o tempo de jogo relativamente curto (cerca de três horas em sua campanha).

Como mencionado anteriormente, não é como se você saísse só atirando, é uma dança. Uma dança digna de uma cena de filme de ação com coreografias pitorescas de filmes dos anos 90. O que mantém esse ritmo certo é a duração de cada fase. Em cerca de 25 a 40 segundos, você finaliza um andar e já parte para o outro após desbloquear algum novo item, arma ou upgrade. Esse looping entrega aquela dose de dopamina que o cérebro fala pra você a cada final de andar, ou a cada morte: “só mais unzinho, vai, a gente consegue!”.

A música é uma parte fundamental da experiência. Com uma trilha sonora synthwave que combina perfeitamente com a estética do jogo, cada tiro e cada golpe são amplificados pelo ritmo, criando uma sensação energética que impulsiona os jogadores até o final de cada nível. Eu já mencionei que é uma dança? É como se Hotline Miami e Crypt of the Necrodancer tivessem tido um bebê, mas esse bebê usa mullet, espingarda, masca chiclete e fala frases de efeito.

Esteticamente, não tem como não se sentir atraído pelas cores vibrantes e cheias de referências nostálgicas. É como se você tivesse colocando um CD-ROM de algum jogo clássico dos anos 90 em seu computador branco e se preparando para jogar algo que te fez muito feliz na infância. Jack é um protagonista super engraçado e caricato e a donzela no qual ele precisa resgatar é digna de um personagem de anime dos anos 90. O modelo de armas, itens e o cenário entregam uma experiência visual muito bonita, unindo a boa progressão de novos cenários de acordo com a sua evolução, ajudando a não se tornar repetitivo. Um destaque especial fica para os chefes “robô milionários” que nós enfrentamos, que brilham tanto no visual quanto em sua boa forma de lidar com cada um.

A Hammer 95, o estúdio brasileiro que criou Mullet MadJack, claramente deve ter se divertido muito fazendo esse jogo. Para os fãs mais nostálgicos, pode se preparar para um show de muitas referências e comédia pastelão. Desde um verdadeiro gameplay de experiência de unboxing de uma caixa de jogo para computador dos anos 1990 até um Tamagotchi munido de raciocínio por inteligência artificial que te acompanha ao longo da jornada, ou seja, o que não vai faltar é nostalgia. Eu por muitas vezes me peguei rindo das bobeiras que o jogo te apresenta de uma forma bem cativante.

Apesar de acertar em muita coisa, o jogo talvez não consiga entregar tanto em um dos seus momentos de gameplay quando se interage com os cenários: correr pela parede. O jogo adiciona essa mecânica que já é bem vista em jogos de tiro na atualidade, mas que aqui não parece ter sido muito bem executada. Não é como se eu me sentisse de fato correndo pelas paredes fazendo parkour, mas é como se eu estivesse apenas colado nela e de alguma forma, sem ter tanto controle sobre o respectivo momento do gameplay.

A campanha de Mullet MadJack é curta. Em cerca de 3 horas, você provavelmente conseguirá terminá-la sem sustos. Porém, ao meu ver, ela termina no momento certo. Quando o jogo começa a demonstrar que talvez fique repetitivo, ele termina no auge. E por terminar no auge, você quer mais. E Mullet MadJack consegue entregar um excelente fator replay, que faz o jogador se sentir convidado para jogá-lo em outras dificuldades, onde o que muda é o cronômetro de vida que você tem. Ao invés dos 10 segundos no modo normal, você terá menos que isso em dificuldades superiores. E olha, vale a pena conseguir um par de tênis novo diferente terminando a campanha em cada dificuldade, tá?

Além do modo campanha, o jogo conta com um modo infinito, feito justamente para quem busca um bom fator de replay para continuar jogando. No modo infinito, você poderá focar de forma competitiva, tentando buscar as melhores pontuações e competir com outros jogadores na tabela de líderes. Quanto mais rápido e mais efetivo forem as suas runs, maior será sua pontuação.

Mullet MadJack é exatamente tudo o que ele se propõe a ser: divertido, explosivo, canastrão, frenético e muito viciante. Além de tudo, o jogo consegue te cativar e te prender em uma premissa simples, mas cheia de criatividade na forma que te coloca como centro das atenções. Você se sentirá um verdadeiro influenciador digital matando robôs e sendo elogiado pelo chat.

Apesar de algumas falhas no gameplay, como no já mencionado o sistema de parkour, o jogo brilha muito mais em sua totalidade. Proporcionando uma experiência visual e de gameplay verdadeiramente singular. Com o lançamento de Mullet MadJack, posso afirmar que o estúdio brasileiro conseguiu entregar um dos jogos mais divertidos do ano até aqui e tem tudo para agradar todo fã de jogos de tiro em primeira pessoa.

Mullet MadJack está disponível para PC e você pode comprá-lo na Steam. Apoie a indústria brasileira de videogame!

Mullet MadJack

NOTA - 9.1

9.1

Excelente

Com uma mistura única de ação frenética, humor ácido e uma estética nostálgica dos anos 80/90, o jogo cativa os jogadores desde o primeiro momento. Sua jogabilidade rápida e frenética, combinada com uma trilha sonora synthwave envolvente, cria uma experiência energética e empolgante. A campanha curta, mas intensa, é complementada pelo modo infinito, que oferece um desafio competitivo aos jogadores. Embora tenha algumas falhas, como o sistema de parkour, "Mullet MadJack" brilha em sua totalidade, proporcionando uma experiência visual e de gameplay verdadeiramente singular.