É corriqueiro nos deparamos com inúmeras obras dos mais diversos tipos de consumo, onde você consegue se conectar de uma maneira mais pessoal pelo simples fato de você estar passando por um momento no qual consegue se enxergar no lugar de algum personagem. Quantas obras você já não consumiu em um momento, teve uma opinião, e quando foi consumi-la novamente, mudou completamente?

Jogos narrativos e RPG’s normalmente conseguem entregar muita carga emocional quando se o jogo provoca esse intuito. Mas algumas vezes somos surpreendidos de maneira muito positiva, principalmente quando é algo que você normalmente não espera te entregar algo do tipo. Me deparo aqui com um Heading Out, um jogo independente roguelike e que logo de cara consegue ganhar simpatia de muitos pelo seu visual narrativo de história em quadrinhos. Mas é experenciando sua aventura, onde você consegue colocar sua pessoalidade à tona. Seus medos, seus traumas, suas alegrias, sua nostalgia. Todas suas emoções serão colocadas em jogo em um roguelike verdadeiramente único.

Heading Out é um jogo de corrida estiloso que combina corrida, narrativa e elementos roguelike de forma magnífica. Inspirado nos road movies americanos da década de 1970, o jogo coloca você no papel de um fugitivo dirigindo um muscle car pelas rodovias dos EUA, não apenas fugindo da polícia, mas também tentando superar seus próprios medos.

A experiência começa com uma abertura emocional, onde você responde a perguntas profundas que moldam sua jornada. Essas escolhas influenciam não apenas o início da sua jornada, mas também a música que toca no rádio do carro, criando uma experiência pessoal e imersiva.

Uma vez na estrada, Heading Out se revela como mais do que um simples jogo de corrida. É um “caRPG”, onde você precisa equilibrar vários fatores, como seu nível de procurado, sua infâmia, a condição do seu carro, sua carteira e sua saúde, enquanto tenta superar seus medos. O medo, que se espalha pelo mapa muito mais rápido do que nas corridas, exige que você trace cuidadosamente sua rota pelos EUA para escapar dele.


A jogabilidade se desenrola em três partes principais. A primeira é a narrativa interativa, onde você deve aumentar sua infâmia e desenvolver sua lenda na estrada, interagindo com pessoas nas cidades e nas estradas. Essa parte é como um filme de perseguição de carros dos anos 70, onde suas ações têm consequências duradouras.

A segunda parte é o planejamento de rotas, apresentado como um grande mapa dos EUA, onde você deve planejar estrategicamente sua rota para garantir que o medo nunca o alcance. Essa fase exige cuidado com o gerenciamento de recursos, como combustível, cansaço, mantimentos e a condição do carro.

Finalmente, há a condução direta nas estradas dos EUA, que oferece corridas um pouco mais emocionantes, mas que infelizmente podem se tornar muito repetitivas e sem muito direcionamento de narrativa, diferente dos outros modos. O jogo consegue criar uma sensação de velocidade e potência, com a oscilação constante entre ultrapassar e ser ultrapassado mantendo você preso até o fim.

A mecânica de corrida normalmente é simples: você se depara com algum evento narrativo entre uma viagem pelo mapa de um estado a outro, onde você provavelmente será desafiado por algum piloto, ou entrará em uma fuga contra a polícia. A outra hipótese é uma viagem relaxada ouvindo música ou um programa de rádio, sendo este último um dos pontos mais positivos do jogo, já que o apresentador do programa irá acompanhar todas as suas ações ao longo de sua jornada e fazer uma resenha sobre sua fama ou infâmia.

Heading Out também brilha em sua apresentação visual e sonora. A estética em preto, branco e cinza, inspirada em quadrinhos, se destaca, assim como a trilha sonora que inclui músicas de artistas como Creedence Clearwater Revival, colocando toda aquela estética clássica dos anos 1970. A sensação de velocidade é constante visualmente e entrega um pouco mais de identidade aos momentos de corrida.

Com todas esse looping de gameplay, eu confesso que o que mais me apeteceu foi sem sombra de dúvidas foi a experiência narrativa com tomadas de decisões que afetam positivamente e negativamente a minha jornada. Por muitos momentos me deparei com situações onde eu simplesmente tinha que colocar a minha própria moral em jogo. Ou seria a moral de Jackie, o protagonista? Mas Jackie sou eu? Afinal, eu decidi qual seria a personalidade de Jackie, mas baseada… na minha?

Serão incontáveis momentos de tensão e decisões pelas quais você não sabe se irá se arrepender no futuro. E caso se arrependa, terá de lidar com isso como uma jornada madura se propõe a ser. O protagonista não sabe bem pelo que lutar, mas sabe que precisa encontrar respostas para o que corrói sua cabeça. Ao mesmo tempo que o seu maior inimigo é o maior inimigo de boa parte de uma geração: o medo. A angústia de viver, a busca por um propósito e uma eterna dúvida sobre o futuro.

Fugir do medo sendo um piloto fora da lei dentro de um muscle car pelos estados norte-americanos é uma figura de linguagem extremamente bem pensada. O medo te persegue. O medo é mais perigoso do que uma perseguição policial, é mais letal do que a fome, é mais amedrontador do que a fadiga em uma direção. O medo nada mais é do que você tentando fugir do seu passado, ou o medo é apenas fruto da sua cabeça que poderia tentar relaxar um pouco e curtir uma viagem ao som de Creendence enquanto aprecia a paisagem?

Em resumo, Heading Out é um jogo promissor, cheio de ação e com uma narrativa envolvente que oferece uma experiência única de corrida e aventura. Para os fãs de jogos que valorizam decisões baseadas em narrativas e uma experiência imersiva, Heading Out é definitivamente um jogo para se ter em mente.

O jogo chega no dia 7 de maio e sua página está disponível na Steam.

Heading Out

NOTA - 8.8

8.8

Excelente

Encontrando um bom ritmo de gameplay e entregando uma ótima narrativa digna de um road movie, Heading Out coloca-se como uma excelente adição à biblioteca dos apaixonados por jogos narrativos de tomadas de decisão e proporciona momentos únicos que colocam à tona a personalidade de quem o joga.