Se você já tem lá suas mais de duas décadas acompanhando videogames, deve já ter jogado diversos gêneros de jogos ano após ano. Com certeza viu alguns gêneros nascer, mas com mais certeza ainda, você viu alguns outros gêneros simplesmente desaparecerem da indústria. À medida em que muitos fãs de diversos gêneros de jogos que foram esquecidos, vão crescendo, eles consequentemente vão ainda se lembrar de alguns dos seus jogos de infância favoritos. 

Quem cresceu no final dos anos 90 e início dos anos 2000, deve ter se deliciado, ou pelo menos ouviu falar, de Paper Mario, um RPG extremamente bem aclamado da Nintendo. Um estilo de jogo único e que, como muitos outros, simplesmente sumiu. A Nintendo em 2020 nos proporcionou Paper Mario: The Origami King, que foi uma bela adição e afagou nossos corações. 

Mas se outros estúdios não fazem questão de trazer abordagens mais próximas de um Paper Mario, deem graças a Deus por existirem novos jovens-adultos que cresceram jogando Paper Mario e hoje são desenvolvedores de jogos capazes de trazer à tona novamente algo que eles sempre sonharam em ter. 

Conheça Born of Bread, o mais recente título do estúdio franco-canadense WildArts Studio. Este jogo encantador tem tudo o que um amante de RPGs e advendutre games poderia desejar: uma história envolvente, personagens carismáticos e mecânicas de jogo inovadoras. A jornada de Loaf, um golem de pão -sim, o protagonista é um Pão!- recém-assado, nos cativa desde o momento em que saímos do forno e mergulhamos nesse mundo maluco e hilário.

Um Pão com Alma

Born of Bread nos apresenta ao hilário e inusitado protagonista, Loaf, que nasceu na cozinha real de seu reino, pelo chefe de cozinha da realeza, que estava apenas fazendo um pão para o banquete. Mas algo inusitado acontece: a massa de pão ganha vida. E de repente, Loaf nasce. 

Não demora muito para que o Chefe se adapte ao seu novo papel de pai, orgulhosamente declarando que “nenhum filho meu ficará desprotegido”. Após vestir seu pão recém-nascido, o Chefe, somos convocados para uma conversa com a Rainha, marcando assim, o início do jogo, onde você assume o controle de Loaf. Ao sair da cozinha, quebrando inadvertidamente alguns artefatos de valor inestimável e deixando um guarda confuso que exclama: “Este não é meu pão, não é problema meu”, você entra no refeitório, onde a Rainha nada agradável aguarda.

Ao avistar Loaf, a Rainha o declara um fora da lei, o que resulta em uma pequena briga que leva ao Chef e a Loaf sendo lançados pela janela e caindo na floresta abaixo. E é nessa floresta, em que eu realmente me envolvi com a história de “Born of Bread”, já que me vi envolvido em inúmeras situações hilariantes após fazer amizades com o Loaf. 

A história se desenrola de maneira encantadora, com reviravoltas inesperadas e um senso de crescimento e consequências à medida que avançamos. Born of Bread equilibra habilmente a narrativa com uma atmosfera alegre e leve, criando uma experiência que é cativante e hilária ao mesmo tempo. À medida que Loaf e seu pai padeiro enfrentam desafios, o jogador se vê cada vez mais imerso neste mundo inusitado.

Mão na Massa

“Born of Bread” convida-nos a explorar um mundo rico em detalhes e maravilhas, onde uma floresta mágica serve como pano de fundo para a jornada de Loaf. A exploração é incentivada, recompensando-nos com missões paralelas, itens colecionáveis e personagens cativantes a cada passo. 

Cada área do jogo é uma obra-prima estética por direito próprio. Das densas florestas às misteriosas cavernas e castelos encantados, o jogo nos leva a uma jornada através de paisagens variadas que mantêm nosso interesse e curiosidade. Cada local é acompanhado por uma trilha sonora única que contribui para a atmosfera envolvente e nos imerge ainda mais no mundo do jogo.

Foi explorando as magníficas paisagens em 2.5D, que de repente este jogo me lembrou uma obra na qual tenho um extremo carinho: Bone. Uma série de quadrinhos criada por Jeff Smith que é uma fábula medieval sobre um protagonista que é bem parecido esteticamente com Loaf. Assim como Bone, ‘Born of Bread’ é uma fábula encantadora, que coloca-nos próximos de nossas obras favoritas de infância, sem perder o charme e as piadas que os adultos podem compreender. 

Os personagens encontrados durante a exploração são igualmente notáveis, com personalidades, histórias e missões próprias que enriquecem o mundo de “Born of Bread”. Não são meros NPCs genéricos, mas indivíduos que contribuem para a riqueza do mundo do jogo.

Um Pão Quentinho e Fresco

Uma das maiores surpresas de “Born of Bread” é a inovação no sistema de combate. O jogo adota uma mecânica baseada em cartas, proporcionando uma abordagem única e divertida às batalhas por turnos. Cada personagem, incluindo Loaf, possui um baralho de cartas com habilidades e ataques. Durante o combate, os jogadores devem escolher estrategicamente as cartas a serem jogadas, levando em consideração as habilidades de cada personagem e as fraquezas dos inimigos. Isso adiciona camadas de estratégia e diversidade às batalhas, tornando cada encontro empolgante e desafiador.

O jogo conta com um sistema de inventário que lembra…. Resident Evil? Bom, alguns dos seus ataques são armas, armas essas que ao serem colocadas na sua mochila, se parecem peças de Tetris, e você vai ter que se virar para escolher quais armas carregar para o combate e conseguir encaixá-las na sua mochila. Então sim, a mecânica é muito parecida com a de Resident Evil, já que você precisa jogar um pouco de Tetris para aproveitar ao máximo o espaço que tem. Naturalmente, você pode aumentar o tamanho do seu estoque ao longo do tempo, e isso certamente parece algo que você deveria fazer, e é um dos pontos positivos sobre a evolução do jogo.

Além do combate, “Born of Bread” oferece uma variedade de minijogos e atividades, desde cozinhar pratos mágicos até resolver quebra-cabeças e desafios de plataforma. A diversidade de atividades mantém a jogabilidade fresca e empolgante. 

Um Verdadeiro Banquete

A estética do jogo é um verdadeiro deleite visual, com cores vibrantes e atenção meticulosa aos detalhes. Born of Bread mistura elementos 2D e 3D. O protagonista do pão e todos os outros personagens são bidimensionais, com um estilo de arte que remete bastante a desenhos animados dos anos 1990, com alguns detalhes interessantes e bastante personalidade. A câmera é fixa mas o mundo é 3D, com algumas opções de exploração e segredos. 

O jogo não conta com um trabalho de voz, mas somos recompensados por uma trilha sonora que merece destaque por sua capacidade de se adaptar perfeitamente a cada ambiente e situação, intensificando a imersão do jogador no mundo do jogo. 

De Pai pra Pão

Born of Bread é um jogo que merece ser degustado, uma aventura que deixará um grande sorriso nos rostos de qualquer um que tenha em mãos o controle, ou até mesmo quem apenas está assistindo você jogar. “Born of Bread” é um prato cheio para os fãs de RPG, narrativas cativantes e experiências de jogo únicas. 

Por mais simples que pareça uma história de Pai e Filho, aqui estamos diante de algo muito bem escrito, e principalmente, super bem humorado. E sabemos que humor nem sempre é a coisa mais fácil de escrever em videogames e, ainda assim, Born of Bread oferece o que eu chamaria de o “Panetone” das piadas de tiozão. 

Infelizmente o jogo não conta com textos localizados para Português, o que de fato, pode ser um empecilho, ou até mesmo, uma barreira para muitos não jogarem. Outro ponto a ser criticado é a falta de algumas melhorias de vida. Entendo que o jogo é uma clara inspiração a jogos dos anos 1990, mas ao modernizar o combate e algumas atividades, poderiam ter trazido consigo também algumas melhorias nos menus, para deixá-los mais práticos, e também ao salvar o jogo, que ainda remete bastante aos jogos antigos onde precisávamos ir até determinado ponto para conseguir salvar o jogo.

Born of Bread tem tudo para ser daqueles jogos que ou você vai adorar ou odiar, mas para mim, recebo de braços abertos e um sorriso gigante no rosto. Prepare-se para saborear uma aventura que permanecerá como uma das mais especiais da indústria de jogos. É um banquete em todos os sentidos.