Vamos combinar: tentar levar a história de Doom a sério é como discutir filosofia no X ou fazer CPI de Bet hoje no Brasil. Desde 1993, a série sempre soube que sua força está na ação desenfreada, não em tramas profundas. John Carmack, cofundador da id Software, já resumiu isso com: “História em jogos é como história em filmes pornô: todo mundo sabe que está lá, mas ninguém realmente liga”. E cá entre nós, ele tem um ponto. Enquanto muitos jogos modernos nos afogam em cutscenes e diálogos intermináveis, Doom segue firme no seu mantra: menos conversinha, mais porradinha.
Mas, mesmo com essa irreverência, a franquia construiu um universo tão caótico quanto divertido. Do fuzileiro pixelado de 1993 ao Slayer medieval de The Dark Ages (2025), há uma “lógica” por trás do caos — mesmo que ela se resuma a “demônios invadiram, mate todos”.
Este artigo une todas as narrativas da franquia Doom num único fio cronológico, mostrando como cada jogo contribui para a épica jornada do Marine sem nome — o lendário Doom Slayer. Da misteriosa era medieval de The Dark Ages até as batalhas finais contra Maykrs em Doom Eternal, veremos que, por trás dos tiroteios insanos, existe uma trama coesa de invasões interdimensionais, artefatos ancestrais e uma vingança pessoal que se inicia com a morte da mascote Daisy.
Doom (1993)
A história de Doom nos apresenta um Marine anônimo — que mais tarde será conhecido como Doom Slayer. Após ser punido por se recusar a cumprir ordens questionáveis, ele é transferido para a base da UAC em Phobos, onde experimentos de teletransporte estavam em andamento.
Como era de se esperar, esses experimentos dão terrivelmente errado. Eles abrem portais para o Inferno, liberando uma invasão demoníaca em escala devastadora. Phobos é completamente massacrada e, de forma ainda mais perturbadora, Deimos simplesmente desaparece — sendo sugada para o próprio Inferno, onde literalmente passa a flutuar sobre as profundezas demoníacas.
Diante desse cenário apocalíptico, cabe ao Marine enfrentar sozinho legiões de demônios. Sua jornada o leva diretamente ao Inferno, onde confronta e derrota a temível Spiderdemon durante o episódio “Inferno”. Apesar da vitória, seu alívio é momentâneo. Ao retornar, ele descobre que a Terra também foi tomada pelos demônios, ampliando ainda mais o escopo do conflito e transformando sua missão em uma guerra pessoal contra as forças do mal.

A história de Doom II: Hell on Earth (1994)
A história de Doom escala drasticamente, levando o caos a um novo patamar. A Terra encontra-se em ruínas, completamente dominada por hordas demoníacas. Após garantir a evacuação dos civis ao destruir a barreira que bloqueava o caminho, o Slayer leva a batalha diretamente até os portais do Inferno, determinado a pôr fim à invasão.
O ápice emocional desse capítulo da saga ocorre quando ele descobre que Daisy, seu coelhinho de estimação, foi brutalmente assassinado pelos demônios. Esse momento, além de ser um dos mais icônicos da franquia, torna-se o estopim definitivo para a fúria imortal do Slayer.
Tomado por uma sede incontrolável de vingança, o Slayer parte com ainda mais brutalidade para confrontar o Icon of Sin, a encarnação máxima da destruição demoníaca. A batalha é intensa e culmina na aniquilação total da criatura, encerrando — ainda que temporariamente — a invasão à Terra e restaurando um frágil equilíbrio no universo da história de Doom.
A história de Doom 64 (1997/2020)
Mesmo após a derrota do Icon of Sin, a história de Doom continua, deixando claro que os resquícios da corrupção demoníaca seguem, de forma persistente, afetando a realidade. A UAC, por sua vez, teimosamente mantém seus experimentos com portais interdimensionais, o que, inevitavelmente, acaba reabrindo novas brechas para o Inferno.

Diante desse cenário caótico, o Slayer não hesita e retorna à ação, descendo, mais uma vez, até as profundezas do Inferno. Lá, ele logo se depara com a Mother Demon, uma entidade extremamente poderosa, cuja responsabilidade consiste em reanimar os demônios previamente destruídos. A batalha que se segue é extremamente intensa e, ao final, culmina na destruição definitiva da criatura.
Após sua vitória, o Slayer toma uma decisão que se tornaria um marco na história de Doom. Ele escolhe permanecer no Inferno, lutando eternamente, garantindo que nenhuma criatura demoníaca consiga escapar novamente. Esse sacrifício não apenas reforça seu papel como protetor da realidade, mas também solidifica sua lenda como uma força imparável contra o mal.
A história de Doom: The Dark Ages (2025) (SEM SPOILERS)
Em Doom: The Dark Ages, somos apresentados ao guerreiro que futuramente se tornará o lendário Doom Slayer. Neste período, ele faz parte dos Night Sentinels, uma ordem de guerreiros que defende seu mundo, Argent D’Nur, das incessantes investidas demoníacas.
O universo está à beira do colapso, e é nesse contexto que surge a aliança com os Maykrs, entidades quase divinas vindas de Urdak. Eles oferecem milagres tecnológicos e energia quase ilimitada em troca das almas dos condenados, gerando a Energia Argent. Contudo, essa barganha rapidamente demonstra ser uma armadilha moral: enquanto os Sentinels acreditam estar protegendo seu povo, estão, na verdade, alimentando a máquina infernal.
A traição dos Maykrs, além da corrupção de alguns membros dos Night Sentinels, bem como o surgimento dos Hell Priests, acabam por acender a chama de uma guerra que transcende mundos. Nesse cenário, o protagonista — que ainda não ostenta o título de Doom Slayer — inicia, então, a jornada que, pouco a pouco, o conduzirá a se tornar uma lenda imortal na história de Doom.
5. A história de Doom 3 (2004)
Apesar de seguir uma linha paralela, Doom 3 também adiciona uma camada interessante à história de Doom. Marte abriga ruínas de uma civilização que já enfrentou o Inferno muito antes dos humanos.
O Dr. Betruger, corrompido, abre portais que ligam Marte ao Inferno. A luta envolve a descoberta do Soul Cube, um artefato capaz de consumir almas demoníacas. No final, Betruger se transforma em um demônio dragônico, encerrando essa linha, mas mantendo o legado sombrio.

Doom Eternal (2020)
Doom Eternal funciona como um prequel direto de Doom (2016), expandindo massivamente a história de Doom. Em 2163, uma invasão demoníaca devasta a Terra, matando mais da metade da população mundial. Além disso, a UAC, completamente corrompida pelos Maykrs e pela influência do Inferno, facilita essa invasão.
Nesse contexto, o Slayer, auxiliado por VEGA, parte em uma missão crucial para destruir os três Hell Priests — Ranak, Deag Nilox e Deag Grav —, que funcionam como pilares da influência demoníaca na Terra. Cada sacerdote mantém um elo energético que sustenta os portais abertos e, consequentemente, garante a presença do Inferno no planeta.
Durante essa cruzada, o Slayer viaja até Exultia, mundo natal dos Night Sentinels, onde descobre mais sobre sua própria origem. Lá, ele aprende sobre a Divinity Machine, um dispositivo criado pelos Maykrs e utilizado por um Seraphim para transformar seu corpo mortal em uma arma viva contra o Inferno.
Enquanto isso, a Khan Maykr, líder dos Maykrs, surge como a grande antagonista da história. Ela firma pactos profanos com o Inferno para obter Energia Argent e, assim, sustentar seu próprio mundo, Urdak. Por fim, a batalha final leva o Slayer até Urdak, onde ele derrota a Khan Maykr e, consequentemente, liberta o Icon of Sin, que estava selado. Esse ato, portanto, obriga o Slayer a enfrentar o Icon diretamente na Terra.
A vitória sobre o Icon of Sin encerra temporariamente a invasão e então deixa evidente que o equilíbrio cósmico foi quebrado. VEGA permanece ligado às estruturas de Urdak, insinuando que ele pode ser, na verdade, uma encarnação de The Father — a entidade criadora do cosmos na história de Doom.

A história de Doom em The Ancient Gods (2020)
The Ancient Gods se passa imediatamente após Doom Eternal. Com a morte da Khan Maykr, Urdak cai em desordem e, consequentemente, os portais interdimensionais começam a colapsar. Sem a liderança dos Maykrs, o equilíbrio entre os reinos se rompe.
Na Parte 1, o Slayer tem como objetivo ressuscitar The Father para restaurar a ordem. Durante essa jornada, ele enfrenta antigos aliados corrompidos, novas hordas demoníacas e horrores cósmicos. Além disso, uma verdade chocante é revelada: The Father nunca desapareceu; na verdade, ele se escondeu como VEGA.
Já na Parte 2, a história de Doom atinge seu ápice. O Slayer viaja até Immora, o coração do Inferno, para confrontar o Dark Lord, que representa seu reflexo invertido — ou seja, a personificação da violência e da guerra. Após uma batalha brutal e decisiva, o Slayer derrota o Dark Lord, encerrando o ciclo de invasões e, assim, selando as fendas dimensionais.
Porém, ao derrotar o Dark Lord, o Slayer perde sua imortalidade e, em seguida, cai em estase. Logo depois, os Night Sentinels depositam seu corpo em uma cripta dourada onde ele repousa até que o mal ouse retornar — porque, na história de Doom, o fim nunca é realmente o fim.
A história de Doom 2016
A história de Doom em Doom (2016) ocorre cronologicamente depois dos eventos de Doom Eternal. Após destruir a Khan Maykr e provocar o colapso das estruturas que sustentavam a invasão demoníaca, o Doom Slayer sofre uma traição inesperada por parte de Samuel Hayden. Dessa forma, Hayden rouba o Crucible e aprisiona o Slayer em uma cripta localizada na instalação da UAC em Marte.
Décadas depois, em 2149, uma nova geração de cientistas da UAC, liderada por Hayden, retoma a exploração do uso da Energia Argent. No entanto, eles acabam despertando acidentalmente o Slayer, que, sem hesitar, imediatamente retoma sua cruzada contra o Inferno.
Enquanto isso, Olivia Pierce, principal antagonista, lidera uma seita que busca abrir permanentemente os portais para o Inferno. Assim, a jornada do Slayer envolve a destruição dos Argent Filters, o colapso da Torre Argent e, por fim, a batalha final contra a Spider Mastermind, no próprio Inferno. Dessa maneira, a história de Doom reforça o conflito eterno entre o avanço tecnológico irresponsável e as forças sobrenaturais.
Não está nem longe de acabar….
De fato, a série jamais precisou de justificativas elaboradas para existir; consequentemente, ela se tornou icônica.
Enquanto isso, muitas franquias se perdem em reboots dramáticos ou trilogias pretensiosas; por outro lado, o Slayer segue seu ritual: primeiro, abre portais; em seguida, encontra armas ainda maiores; finalmente, parte para o clássico “rip and tear” até o próximo crédito rolar.
Além disso, The Dark Ages (2025) promete mais do mesmo, porém com um toque medieval e dragões mecânicos.
Em vez de buscar profundidade, nós queremos caos absoluto.
Acima de tudo, queremos ver chifres voarem, a trilha sonora invadir nossos ouvidos e o inferno se despedir de qualquer rotina.
Afinal, como Carmack bem ensinou, antes de salvar o mundo com discursos motivacionais, Doom sempre tratou de fazer o Inferno tremer — mesmo que o único incentivo do protagonista seja um tweet de duas palavras: “Estou puto”.
Por fim, talvez seja exatamente por isso que, décadas depois, a fórmula ainda funcione.
Em um mundo onde até jogos de tiro querem ser cinema, consequentemente, Doom nos lembra que, às vezes, tudo o que precisamos é de uma shotgun, um salto duplo e uma horda de Cacodemons para esmagar.