O multiplayer de Call of Duty: Modern Warfare 3 é um adolescente em crise de identidade

O fim de mais um ano está batendo na porta, e como de costume, um novo Call of Duty também. Foi assim ao longo dos últimos 20 anos, deixando de existir um Call of Duty anual, em 2020, mas voltando a normalidade em 2021 com Vanguard. Ao lado de jogos de esportes como FIFA, Madden, NBA 2K e jogos de festa como Just Dance, Call of Duty sempre foi conhecido por serem jogos com prazos de validade. Pelo menos no que se refere à comunidade multiplayer.

Desenvolvimento Conturbado

Em meio a mais um iminente novo Call of Duty sendo lançado em 2023, surgia vários rumores de que este seria o Call of Duty com menor tempo de desenvolvimento da história. Call of Duty: Modern Warfare 3, teria sido produzido em apenas 16 meses, de acordo com o jornal Bloomberg

Em um tempo tão curto de desenvolvimento, Call of Duty: Modern Warfare 3, ao ser lançado, tentou trazer algum ar de inovação à série, mesclando elementos conhecidos com alguns aprimoramentos do título anterior. No entanto, ao jogar por algumas horas o conteúdo multiplayer deste jogo, encontrei uma experiência multifacetada que, apesar de momentos nostálgicos, não consegue evitar o terreno instável da originalidade que já houve um dia.

Crise de Identidade

O componente multiplayer, que já foi o ponto alto da série, enfrenta uma batalha para manter a relevância em comparação com o sucesso do Warzone nos últimos anos. A nostalgia dos mapas renovados do Modern Warfare 2 é inegável, evocando recordações da primeira década do século. Contudo, essa viagem ao passado se revela mais como uma expansão glorificada do jogo do ano anterior do que como um título premium completo. Sabe a máxima de que jogos como FIFA deveriam se tornar jogos como serviço? Pois é. O desenvolvimento parece truncado, com mapas reciclados e uma falta notória de inovação, deixando a impressão de que a série precisa de um período de pausa para respirar e repensar seu futuro.

Tudo de novo, de novo

O multiplayer se baseia fortemente em mapas redesenhados, uma escolha que, embora acione a nostalgia, evidencia a falta de esforço no desenvolvimento. Eu realmente não tenho mais a menor paciência para jogar novamente em mapas como Rust, Terminal e Favela, por exemplo. Sim, eu sei, quem é fã de Call of Duty se divertiu muito jogando esses mapas. Mas isso foi há quase 15 anos. Seria válido se esses mapas fossem apenas alguns mapas a mais, alguns bônus para nos pegar pela nostalgia. Mas não, eles são mapas que estão no top tier de mapas principais desse jogo.

Os mapas foram refeitos e a estética mais reluzente e requintada dos mapas é notável, mas as mudanças reais vêm das pequenas adições ao longo dos anos. Elementos como montar armas em paredes e maior mobilidade acrescentam uma camada de estratégia, mas, ao mesmo tempo, mostram o quão estagnada a série tem estado, reciclando mecânicas presentes há mais de uma década.

O sistema de vantagens passa por ajustes, vinculando-as a equipamentos como botas, uma mudança que não contribui significativamente para a jogabilidade. A introdução de coletes oferece atualizações gerais, mas a complexidade na progressão e personalização pode sobrecarregar os jogadores. Os desafios do Arsenal, embora incentivem a experimentação, podem parecer tediosos e forçar estilos de jogo indesejados, o que destoa da experiência intuitiva do Call of Duty.

Um modo Zumbi que respira

A incursão no modo Zombies revela uma das maiores mudanças, abandonando o formato tradicional por uma abordagem inspirada em jogos de extração que ficaram populares com Escape from Tarkov. No entanto, essa mudança resulta em uma atmosfera mais fria e desconectada, perdendo parte do caos emocionante característico do modo. Os contratos e saídas flexíveis tiram um pouco do compromisso, proporcionando uma experiência mais casual, mas menos imersiva. 

O atirar nítido e preciso permanece um ponto forte, proporcionando desempenho sólido na campanha, multiplayer e zumbis. O Gunsmith introduz uma variedade incrível de opções de personalização de armas, elevando a complexidade do jogo. Contudo, a seleção inconsistente de mapas 6v6 decepciona, e os problemas de visibilidade do jogador e rotação de spawn prejudicam a imersão.

A progressão baseada em habilidades cria uma experiência divisória, com jogadores oscilando entre lobbies de habilidade desigual. Isso, somado à falta de consistência nos mapas e à desorientação causada pelos spawns, cria um déficit de atenção em um ambiente que já carece de novidades genuínas.

Os vícios de uma indústria

A revisitação aos desafios diários revela uma mudança positiva e negativa no comportamento do jogador. Embora recompensem objetivos e incentivem modos específicos, também podem levar a comportamentos indesejados, prejudicando a experiência prolongada. Se antes boa parte dos usuários entravam em uma partida de Call of Duty para atirar e conseguir séries de pontuação para mandar um Hellstorm Missile, hoje o foco tem sido: preciso conseguir matar 5 bonecos enquanto eu estiver deitado, usando uma arma X. O mapeamento de desbloqueios em três faixas também destaca uma falta de alinhamento e potencial em um ecossistema congestionado.

Modern Warfare 3, apesar de algumas ideias interessantes, parece perder a oportunidade de consolidar inovações. A falta de uma visão coesa e a sensação geral de uma franquia em decadência levantam dúvidas sobre o futuro da mesma. É preciso tirar um ano sabático, ou dois, para pensar um pouco sobre a franquia e sobre como melhorá-la. Pela primeira vez na história, por exemplo, não temos um shooter concorrendo a categoria de melhor jogo multiplayer no The Game Awards. Será que é um problema de Call of Duty, Battlefield e outros shooters, ou o próprio público cansou?

Merecia Mais

Em seu 20º aniversário, Modern Warfare 3 emerge como uma experiência que se assemelha a quando você vai todo ansioso para comer aquele biscoito Passatempo que você adorava quando criança, mas hoje tem sabor apenas de leite maltado e muita gordura vegetal. O multiplayer de COD: Modern Warfare 3, proporciona sim, algumas horas de diversão, especialmente para os fãs ardorosos da série.

No entanto, a falta de uma grande concepção criativa e a sensação de uma série em busca de um rumo claro fazem deste título mais uma retrospectiva nostálgica do que uma visão do que está por vir. O futuro do Call of Duty permanece incerto, e é hora de a série repensar seu caminho à frente, talvez dando um passo atrás antes de avançar novamente.

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