Não lembro a última vez em que joguei algo que ao mesmo tempo fosse diferente e igual, parece complicado, mas essa foi minha experiência ao iniciar Ultros, desenvolvido pela Hadoque e que saiu no dia 13 de fevereiro de 2024. Mas o que difere este game de outros jogos desse estilo? Talvez a resposta esteja na força de vontade dos criadores em entregar uma jornada que une o psicodélico em um tom contemplativo e extremamente lindo.
Desperte e contemple
O jogo segue o estilo de aventura 2D side scrolling, ambientado em um mundo que bebe da fonte de obras da ficção científica.
Controlamos Ouji, uma misteriosa personagem que acorda em um mundo estranho e belo, sem muitas pistas, nossa única opção é sair explorando o mapa.
Ultros pode deixar os jogadores confusos em seu início, porém é preciso calma para saber que o jogo exige tempo e paciência.
Não precisamos sair com toda a pressa do mundo, até porque isso é algo impossível de realizar nas primeiras horas de jogo.
Isso ocorre pois o game possui uma jogabilidade linear, mas que leva o jogar a reviver diversas vezes em ciclos que aparentemente possuem repetição, mas que se mostram diferentes conforme avançamos na obra.
Os comandos são simples e funcionam bem, teremos os clássicos movimentos como; pulo duplo, salto na parede e dash, além dos golpes para combate.
Entretanto, como mencionei anteriormente, a obra se divide em ciclos, ao todo são sete deles, e toda vez que um deles é concluído, o jogador deve retornar até um ponto específico do mapa, esta ação reinicia o game.
Entretanto, o jogo não é uma espécie de rogue like, já que para cada ciclo o jogador pode tentar vencer a fase quantas vezes quiser.
Durante cada nova fase, Ouji encontra diferentes tipos de ferramentas, estas que servem para abrir novos caminhos e alcançar locais antes bloqueados.
Ou seja, para cada nova ferramenta, maior a exploração se torna, o que instiga o jogador a continuar, mesmo com toda a repetição.
A dança mortal
O jogo possui um excelente combate que faz o jogador querer sempre encontrar um inimigo novo e testar as habilidades do protagonista.
Apesar de termos apena uma arma principal, uma fiel espada katana, mas o game disponibiliza uma árvore de habilidades com novos golpes, incluindo chutes acrobáticos.
O jogo possui uma mecânica de progressão de personagem que consiste em alimentar Ouji para que ele possa ter os status suficientes solicitados por determinada habilidades.
Os alimentos são frutos ou partes deixadas pelos inimigos, e cada fruto ou parte dos inimigos aumentam status específicos, precisamos caçar e plantar diferentes espécies.
Quando o jogador passa um ciclo, toda habilidade conseguida some e temos que obter elas novamente, porém, podemos pegar certos tecidos cerebrais que permitem fixar uma habilidade na memória, então, ao iniciar o novo ciclo teremos os golpes normalmente então saiba qual habilidade fixar.
Ainda no quesito combate, cada inimigo pode deixar partes chamadas de “unidades perfeitas”, para consegui-las temos que abater a caça golpes diferentes, usar o mesmo golpe muitas vezes prejudica a recompensa.
A variedade de inimigos é relativamente alta, tendo em vista que o jogo é bem curto, são ameaças voadoras, terrestres, humanoides, feras etc.
Além disso, temos os chefes, e subchefes, estes que por sua vez aparecem a cada novo ciclo e oferecem um bom desafio ao jogador.
Todas as cores possíveis
Em Ultros temos um dos indie games mais belos do ano, o jogo possui cores tão vivas e chamativas, que é impossível não parar e observar certos cenários.
O mapa do jogo é o primeiro ponto que me desapontou, mas nada grave, o ponto é justamente o level design, que me pareceu confuso.
Não por ser mal-feito, mas a forma que é apresentado, certas partes no mapa, uma área parecia disponível, se mostrava bloqueada ao chegarmos até lá.
Isso ocorre em muitas partes, em algumas podemos observar muitos atalhos e pensar em como acessá-los, outros simplesmente possuem uma parede bloqueando.
Isso gerava um vai e vem desnecessário, o que levava para uma frustração e uma temporária desistência da fase até conseguir achar o caminho certo.
Mas mesmo com essa exploração prejudicada em certas partes, a cada nível superado a vontade de descobrir o final do jogo aumentava.
Isso porque o game coloca um mistério que leva o jogador a querer entender mais sobre aquele mundo e da ameaça principal.
Apesar de não ser uma história complexa, é competente no que se propõe, contendo uma parte filosófica em seu roteiro, em muitos momentos o game parece até mesmo um álbum de rock psicodélico.
Com enigmas e boas batalhas, Ultros se enquadra nos bons metroidivanias, mas por mais que eu tenha gostado do jogo, me parece que ele foi apenas um bom teste da equipe de desenvolvedores, o que pode significar que futuramente veremos algo ainda melhor vindo da Hadoque.
ULTROS
NOTA - 8.6
8.6
EXCELENTE
Ultros, da Hadoque, oferece uma experiência única de ficção científica psicodélica. Com jogabilidade dividida em ciclos, combate dinâmico e gráficos vibrantes, é um metroidvania desafiador. Apesar de questões de design confuso, sua narrativa instigante promete futuros aprimoramentos da equipe de desenvolvimento.