Estamos falando de Top Gear, que dispensa apresentações no Brasil, mas talvez falte a informação para algumas poucas pessoas de que a coletânea da qual estamos falando não tem o nome original por simplesmente nos dias de hoje não pode utilizar o nome Top Gear, já que este nome pertence ao programa de Tv britânico. Sendo assim, o título empregado foi a versão japonesa dos games: Top Racer, Top Racer 2 e Top Racer 3000. Na verdade mesmo, Top Gear 3000 se chama The Planet’s Champ TG3000 no Japão, mas vamos relevar.
Top Gear como franquia pra mim não chega no nível de qualidade geral que eu acho que o jogo Lamborghini American Challenge do Super NES tinha, mas garante boas horas de diversão numa plataforma onde não tínhamos tantos jogos de corrida, vistos da traseira do veículo.
A coletânea chega ao público num momento mais delicado em relação ao timing, pois temo que a falta de presença como franquia nesses anos todos, automaticamente tenha apagado a marca do consciente do público. Tudo faria muito mais sentido na era do Xbox Live Arcade, por exemplo. Esse timing se concretiza de cara ao jogador, quando ao entrar no lobby online eu não tenha encontrado ninguém para jogar, nem antes do embargo e nem depois do lançamento para o público. O jeito é depender de um grupo já familiar de amigos online ou presenciais, como nos velhos tempos.
Um dos principais motivos que poderiam atrair jogadores antigos já cansados de repetir estas experiências, seria o sistema de troféus (ou conquistas), afim de fazer o jogador correr atrás de novos desafios propostos. Estes troféus apresentados não parecer ir a fundo em seus desafios, oferecendo sempre o mesmo padrão ao longo dos jogos: “termine o campeonato do país X, no nível Y”; “Crie uma campanha customizada em jogo X”… Um leve olhada no sistema Retroachievements, que é um sistema criado por fãs para que roms e emuladores antigos possam oferecer conquistas, e já podemos notar a maior criatividade e quantidade de conquistas. Os pre-requisitos no endereço de memória da coletânea oficial parecem cutucar áreas óbvias e rasas demais, enquanto no sistema dos fãs, a caça é muito mais emocionante. Todavia, ainda se faz válida a coleta no lançamento atual.
Eliminados também foram os passwords presentes nos três jogo originais. Eles permitiam cheats, e agora para se destrancar uma cheat, você terá que terminar cada um dos títulos. Óbvio, estamos vendo aqui várias formas dos novos desenvolvedores fazerem o pacote ter uma vida mais longa na base da repetição da jogatina várias vezes, ao longo dos títulos oferecidos. Em contrapartida, agora temos a capacidade de save state, com 3 slots disponíveis individualmente para cada jogo, e isso irá remediar a pausa na progressão. O curioso é que em todos os títulos, podemos ainda anotar as passwords nas telas de vitória, só não vamos ter meios de utilizá-los.
Agora, sobre Top Racer, o primeiro, o que podemos dizer nessa altura? Talvez que ele seja um jogo pouco suave em qualquer versão – seja no SNES ou aqui no presente. Logo, a aproximação de curiosos novatos sempre será menor do que a dos nostálgicos.
É preciso pegar o mínimo denominador de um jogo de corrida visto da traseira de um carro, num ambiente 2d que simula o 3D, e a partir de tão pouco, criar uma obra funcional que irá entreter por mais que uma hora. Até aí o Endura já havia chegado muito perto disso nos anos 80. Top Racer está aqui firme e forte porque possui espertos crescendos em seu game design, requerendo estratégias quase mirabolantes na hora de passar por um pit stop. Essa dinâmica que faz você calcular em qual volta será necessário parar para abastecer, mantém a diversão de pé por mais tempo.
Fora isso, o primeiro jogo requer reflexos rápidos na hora de desviar dos carros, e sabendo que um controle bluetooth junto de um emulador, juntos, jamais terão o nível baixo de input lag que o hardware original oferecia. Essa diferença será impossível de retirar e o jogo se apresenta como uma obra antiga rodando em um complexo no qual não lida com atrasos com tanta eficiência. Além do mais, a versão original teve em mente o prático, pequeno e ergonômico controle de Super NES. O que eu quero dizer é que, pequenos fatos em diferentes áreas minam não só esta, mas também qualquer outra obra que se proponha a emular um jogo antigo.
Tendo dito isso, o jogo ainda está no limiar do que a gente pode jogar bem.
Você sabia que a sequência de Top Gear não foi lançada apenas no SNES? Pois é, temos versões presentes no Mega Drive, e até no Amiga. Eu tive a oportunidade de jogar essas versões no hardware, e sou fã das músicas no Mega Drive (algo raro) porque são mais lentas e dá pra digerir melhor. Alias, eu curto mais as melodias das músicas desse jogo do que as do anterior. Acho que o serviço do primeiro Top Racer é de fazer suas músicas mais icônicas, sem dúvida, mas devo preferir essas canções daqui. Por outro lado, esse é o jogo que basicamente inutiliza a mecânica de gasolina/pit stop, mas mesmo assim coloca ali, restando a utilizar para ver que o seu carro está pedindo novas peças e está consumindo mais do que deveria nas pistas do meio do jogo.
Tanto Top Racer 2 quanto Top Racer 3 não são jogos pequenos e podem causar fadiga, ainda mais que um setup mal feito no carro em termos de timing da compra, pode te apresentar um game over momentâneo.
Top Racer 3000, enquanto Top Gear 3000, era um jogo especial no sentido de trazer consigo no cartucho um chip especial, chamado DSP-4, responsável por organizar muitos sprites de forma ligeira, conforme demandada num título já do fim da vida do console. Ao mesmo tempo que o jogo trazia um design de carros estranhos, super achatados, oferecia uma viagem entre sistemas inventados e assim uma trajetória mais variada e assim, menos enjoativa. O som mais abafado do jogo é uma pena, e mais ainda que não tenha sido retrabalhado para aparecer na coletânea. Mesmo assim, ele oferece diversões nostálgicas como opção para 4 jogadores numa tela só, pistas que se bifurcam e um sistema de abastecimento de gasolina e conserto de lataria através de um tapete colorido na pista, tal como ocorria similarmente em F-Zero. Como relatado anteriormente, podemos esperar que Top Racer 3000, também independente da versão de SNES ou aqui na nova, apresenta animação mais suave, talvez a mais suave dentre os três títulos originais.
Agora, voltando nas funcionalidades implementadas na coletânea, podemos contar com o modo de corrida em time trial por pista, para comparação com amigos ou desconhecidos, que é uma das poucas funcionalidades online que vão funcionar efetivamente. Você também pode pegar pistas na ordem desejada de cada jogo e criar novas copas, é como uma mini playlist, só que com pistas para o jogo designado. também temos o Crossroads, que é nada mais que o Top Racer, com sprites novos para os carros jogáveis, além de paletas de cores e alguns sprites novos para os outros oponentes. Nada além disso será modificado.
Com menus em Unity, extremamente separados do jogo em si (as pistas), Top Racer Collection pula para um galho e volta para o mesmo, repetidamente, tornando a experiência um tanto fragmentada, fazendo-se sentir que o conteúdo original não é mais imaculado. O esforço humilde na inserção de novos sprites poderia se estender a pequenos detalhes, como as trocas das placas da antiga publisher, que ainda permanecem no jogo, ou mesmo a tradução dos balões de falas que aparecem junto ao carro de vez em quando.
Mesmo assim, a boa vontade da publisher prevalece, e sempre será bem-vinda a chegada de novos títulos que passaram por nossas terras e que foram mais valorizados aqui do que lá fora. Foi possível ver que existe uma equipe em bom número por trás desta obra, e essa paixão é sempre bonita de se ver.
TOP RACER COLLECTION
NOTA - 7.7
7.7
BOM
Top Racer Collection garante que a memória da trilogia amada por trintões não seja relegada a roms e cartuchos pirateados ou superfaturados em sites de usados. Se por maioria das vezes o conteúdo é simplório e intocado onde queríamos que fosse tocado, adições como o online dão um novo sabor ao clima de competição em locadoras.