S.T.A.L.K.E.R. 2 Heart of Chornobyl é como um disco difícil de ouvir, mas depois todos se entendem

Tendo experimentado a versão inicial de STALKER 2, lançada sem as atualizações subsequentes, minha impressão do jogo foi majoritariamente negativa. Isso não se deu apenas pela falta de polimento nos sistemas ou pela performance complicada no PC, mas também pela forma como a base da jogabilidade se apresentava. Ela soava extremamente arbitrária, especialmente quando conceitos únicos e peculiares eram introduzidos de maneira confusa e nada intuitiva. Em jogos como os de Hideo Kojima, por exemplo, é comum perceber uma curva de aprendizado bem dosada, onde os elementos diferenciadores são apresentados gradativamente. Heart of Chornobyl, por outro lado, parece tão preso à reverência ao seu próprio legado que se torna um produto de game design acolhedor… mas apenas para veteranos da franquia.

Tão bonito quanto perigoso

Com a enxurrada de atualizações lançadas após a estreia, será que minha experiência melhorou de maneira significativa? E quanto a você, que talvez tenha observado as críticas fervorosas do lançamento, o que ainda pode ser apreciado no jogo agora que a poeira abaixou?

Um dos aspectos que mais me cativa em jogos é a ambientação, mas, infelizmente, STALKER 2 não conseguiu me prender completamente nesse quesito. A experiência, embora comparável à de Death Stranding, com seus mundos aparentemente vazios e desinteressantes à primeira vista, tenta encontrar salvação ao integrar elementos sobrenaturais. Essas regras do mundo funcionam melhor quando são criativas o suficiente para se destacarem. Porém, como o jogo adota uma narrativa mais tradicional, o ambiente de campos secos e paisagens decadentes parece constantemente tentar superar suas esquisitices mortais. Quando essa tentativa falha, a monotonia toma conta.

Isso nos leva a um segundo conflito, que nasce do ritmo lento e deliberado do jogo. A movimentação, a manipulação de objetos, as interações comerciais e até mesmo a socialização são mais lentas do que em Fallout, aproximando-se de uma simulação. Como resultado, o jogo parece ideal para ser consumido em doses moderadas, mas, ao mesmo tempo, exige continuidade — longas pausas podem facilmente levar ao abandono. Essa tensão se reflete em todas as facetas do gameplay, desde o combate até a exploração.

O peso de cada encontro com inimigos é palpável, muitas vezes remetendo a um duelo de faroeste, onde o primeiro tiro decide o vencedor. Fugir pode ser uma opção, especialmente quando se está coletando recursos — e, acredite, você sempre estará no limiar da necessidade de algo. No entanto, a precisão implacável dos inimigos não perdoa nem mesmo quem tenta se esconder na vegetação densa durante a noite.

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E desviar do caminho principal traz seus próprios perigos. A Zona de Exclusão é marcada por anomalias sobrenaturais, decorrentes de sua devastação tóxica. Elementos familiares do mundo físico agem de forma inesperada, como jatos de fogo emergindo do solo, eletricidade vagante, perigos químicos e, meus favoritos, os ventos representados por redemoinhos aparentemente inofensivos. Há também bolhas de realidade distorcida que alteram o ambiente ao redor. Para navegar por essas áreas, é essencial carregar pregos no inventário — ao jogá-los nas anomalias, você pode desencadear reações que revelam seus padrões momentaneamente, criando uma oportunidade para atravessar em segurança. Esse nível de atenção ao detalhe é impressionante, especialmente nas tempestades que incluem ciclones e raios caindo perigosamente perto. A maneira como isso é retratado é única e memorável.

Monstrengos para você se divertir.

Essa combinação de tensão constante nos confrontos e a preparação cuidadosa antes de explorar é, para mim, o que STALKER 2 tem de melhor a oferecer. A antecipação, a desconfiança em cada esquina ou hectare, e a necessidade de manter múltiplos saves — como nos clássicos da era de ouro dos jogos de PC — reforçam a natureza hardcore do título. Morrer faz parte da experiência, especialmente em encontros inesperados com monstros, que surgem abruptamente, sem contexto ou tutoriais. Admito que isso inicialmente me irritou, mas acabei enxergando aí o charme de um estúdio com raízes independentes, que realiza seu trabalho com paixão, ainda que imperfeito.

Apesar de seus méritos, STALKER 2 se beneficiaria de uma narrativa mais focada nas suas peculiaridades sobrenaturais. Em vez disso, muitas vezes parece uma micro simulação da guerra na Ucrânia, deixando os elementos de ficção em segundo plano. O que resta é uma curiosa mistura do real com o imaginário, ambientada nas proximidades de Duga e em outras relíquias tecnológicas sucateadas.

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Esta análise foi possível graças a nosso parceiro NUUVEM, que cedeu a chave do jogo.

STALKER 2 HEART OF CHORNOBYL

SCORE - 7.7

7.7

BOM

No final, STALKER 2 é um jogo que demanda paciência, atenção aos detalhes e uma afinidade com desafios. Para alguns, será uma experiência memorável; para outros, uma frustração constante.

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