Tal como um artista germinando sua carreira nesse mundo, jogos, ideias e seus autores podem passar por estágios criativos, escopos comerciais e até sociais diferentes. Por exemplo, podemos observar a saída de um jogo do saudoso Newgrounds para LIVE Arcade e então para grandes publishers. No meio disso tudo está você, esperando ser capturado pelo convencimento daquele jogo em algum momento. Ele vai me convencer quando estiver na loja do console somente? Ele só irá parecer bom o suficiente quando a Devolver resolver publicá-lo? Talvez na fase mais antiga do projeto ele não lhe chame atenção, e até mesmo em outras fases a sua visão sobre aquele jogo já tenha sido estragada por saber que ele vem de um site em flash. Todavia, meu ponto é observar o momento em que você pula no bonde e começa a comprar as ideias de um jogo, suas propostas. Se a sua apresentação é o impeditivo. Pepper Grinder poderia ser muito bem um jogo nascido nesses primórdios, mas sua apresentação o torna formidável do jeito que ele é.
Pepper Grinder é a árvore que veio desde lá atrás a partir de coisas como Super Meat Boy e esses outros games sobre pequenos personagens na tela, controles extremamente secos e precisos, pouco papo e um certo nível de tentativa e erro imediatos.
Pepper Grinder é um desses jogos com pixel arte sem bordas escuras e animações bem detalhadas em sprites minúsculos. Há um investimento em animações espalhafatosas em elementos que não vão atrapalhar na resposta dos controles, como coisas enormes acontecendo ao fundo ou as plataformas, mas como um bom videogame, a diversão de ver uma animação jamais entrará na frente da diversão de se controlar de fato o personagem.
Nessa publicação da Devolver, temos a apresentação geral de um jogo de plataforma acima de qualquer suspeita, mas é de praxe hoje em dia essas jogos bem sucedidos em suas ideias afirmarem que o fato de sua base é de um jogo qualquer da década de 80, mas o que vem no topo desse bolo é o que faz da festa diferencial mesmo.
Claro, você pode e vai iniciar sua jornada pulando ou atacando os inimigos com sua broca ao longo de mundos com temáticas alimentares. Mas tão logo, sem perder tempo nenhum (principalmente sem perder em diálogos e histórias mirabolantes). Entrando, o diferencial de Pepper Grinder: a mecânica de cavar.
Observe como quiser, você pode relacionar a Dig-Dug ou Ecco the Dolphin, e se você teve um estalo revelador só com a menção desses dois jogos antigos, pule para a sessão 3.7 e pegue seu biscoito de prêmio. Para todos os outros geração Z em diante, teremos que ~cavar~ referências mais profundas, mas invés disso, vou preferir descrevê-las.
Quando nesse side scroller você observa o chão ou teto representado como algo frágil, basta mergulhar seu dito moedor de pimenta e se divertir como um surfista descontrolado. Eu sei que não funciona dessa forma na vida real, se você fizer isso numa encosta de barro de baixo para cima você não será puxado pra cima ou algo do tipo, mas videogames começam a ficar levemente mais chatos quando começar a tocar a membrana da simulação da realidade – seus avós não te contaram?
A partir do momento em que está imerso nesses tipos específicos de minerais, que podem variar, seu personagem vira uma espécie de “cobrinha”, sim, aquela cobrinha do jogo de “Cobrinha” do celular Nokia, indo sempre em frente e para curvar para algum lado, será tão prático quanto um ônibus navegando por vielas serpenteantes. Isso quer dizer que a navegação nesse modo pode se tornar um bocadinho mais desafiadora, principalmente se o veio de terra em que você está for limitado de espaço ou outros inimigos estejam navegando nele.
Você poderia assumir agora mesmo que o ponto crítico diferencial de Pepper Grinder está aí, mas ainda não. Ao sair dessas áreas subterrâneas, temos a chance de dar um boost com o pressionar de um botâo, logo antes da borda que separa chão de subsolo. Isso vai fazer com que a nossa personagem seja expelida das profundezas com força, saltando ao ar como um golfinho feliz. Estamos aí no ponto central da mecânica de Pepper Grinder, por este ato de saltar pode lhe levar a outro grupo de terra no teto, por exemplo, que não é alcançavel jogando o jogo normalmente como um jogo de plataforma.
O trunfo de Pepper Grinder é fazer limonadas e limonadas desse pequeno detalhe, as vezes transformando a coisa toda num delicioso Donkey Kong Country nos momentos de nirvana.
As comparações com o jogo da Rare não vão parar por aí, pois teremos canhoões a serem alinhados antes de sermos atirados, misturando a mecânica de saltos da terra.
Talvez aí esteja a razão da maior força e ao mesmo tempo a maior fraqueza de Pepper Grinder: os desenvolvedores não estão muito interessados em esticar artificialmente a sua experiência. Então, seus curtos mas doces 4 mundos de poucas fases cada poderão soar como algo pouco demais para o comprador, porém fica aí a sua decisão de levar qualidade pra casa invés de quantidade, ou qualidade inconstante.
A delícia de pegar uma ideia e abandoná-la em seguida para dar lugar a outra ideia é constante entre as fases, e o que faz Pepper Grinder se estender um pouco mais são as moedas coletáveis, tal como as moedas grandes de New Super Mario Bros, mas ao contrário daquele jogo, nesse aqui, a sua diversão não depende desses artefatos, e sim como algo complementar, que podem ser trocados por novas fases dentro de cada mapa do mundo.
Pepper Grinder é curto mas intenso, sendo o prato mais cheio para speedrunners. Mas para reles mortais como nós, vale as curtas jogatinas em busca de seus segredinhos e aperfeiçoamento no modo de time trial para cada fase.
Pepper Grinder inciialmente foi um jogo lançado para os PCs, mas agora alcança graciosamente os consoles. A versão analisada foi a versão de Steam, e foi possível graças a oportunidade que a Devolver nos deu ao enviar uma chave de review. Aproveite a promoção que está rolando no momento da publicação desta análise.
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PEPPER GRINDER
NOTA - 8.2
8.2
MUITO BOM
Pepper Grinder é para quem quer pouco papo, mais ação e uma experiência coloridamente enxuta, mas sem lacunas abertas para tanto conteúdo extra (ainda que haja algo a ser consumido a mais), se resumindo a um jogo mais contido como um todo. A compensação vem forma de um level design campeão e viciante.
