Pac-Man World 2 Re-Pac é um ótimo remake para se esconder do mundo adulto

Desde que me entendo como apaixonado por jogos, sempre senti que o gênero plataforma 3D e colectathon merecia maior destaque, especialmente além do domínio estabelecido por Mario e da excelente revelação que é Astro Bot. Há uma profundidade e leveza em títulos onde exploração, criatividade e coleta de itens se misturam, construindo uma experiência instigante sem os excessos de sistemas modernos e interfaces repletas de “floreios”. Tinykin e Yellow Car Goes Vroom são minhas maiores surpresas no segmento nos últimos anos, por exemplo. Ao mergulhar em Pac-Man World 2 Re-Pac, tenho a prova de que há espaço — e potencial — para que este tipo de jogo volte a ser mainstream e não seja visto apenas como um “tributo retrô” ou produto menor na fila dos lançamentos anuais, algo que as circunstâncias também fizeram com o gênero de corrida e luta.,

Pac-Man World 2 Re-Pac chega com uma aparência moderna, facilmente reconhecível entre os grandes lançamentos, mas sem sacrificar aquilo que fez do original um marco: horas de diversão filtrada, pura e direta, dispensando tutoriais extensos ou explicações que só servem para frear o ritmo. Há, sim a historinha , da pequena vila perturbada por causa de uma série de trapalhadas dos fantasminhas, que acordam um grande mal maior. O design visual foi totalmente renovado, entregando cenários realmente vibrantes e detalhados — desde campos floridos até cavernas de gelo repletas de desafios, cada ambiente pulsa com cores e formas pensadas para manter o jogador curioso, envolvido e, acima de tudo, entretido. Por vezes me peguei imerso num nível em que não precisava mais olhar para o mundo real com um olhar azedo e não precisava me preocupar com o que estava acontecendo do lado de fora da minha janela. Sempre busco esse acolhimento que uma vez Yoshi’s Island me dera em pleno inverno brasileiro de 95.

A fidelidade em relação ao original não impediu melhorias significativas na qualidade de vida: controles mais responsivos, dublagem completa, avanços gráficos, além da adição de opções de personalização para o lendário Pac-Man. Quem jogou títulos de outros collectathons, como as séries Banjo-Kazooie e mesmo Crash Bandicoot, percebe um “algo a mais” aqui — cada cenário, cada fase, cada item coletável contribui para a constante sensação de conquista e propósito. Eu diria que é algo mais aproximado de Donkey Kong Tropical Freeze, onde se parece que o jogo só está valendo de verdade por eu estar indo atrás de todos os segredos – que é o lugar real onde mora a diversão neste caso.

O Valor Fundamental do Colectathon

Talvez resida aqui um dos grandes triunfos do remake. Pac-Man World 2 Re-Pac reitera o prazer autêntico de simplesmente coletar: vidas clássicas, as míticas frutas, moedas pac-dots e brinquedos para personalização e coleção da turma no hub central do jogo. O sistema de “timed challenge” das fases completas — liberando um time trial com placares mundiais — adiciona competitividade sem perder o espírito individualista que diferencia títulos como Donkey Kong Country Returns ou Tropical Freeze.

A coleta não é um objetivo lateral; é o cerne da experiência. A cada pequeno segmento das fases, somos instigados a procurar, investigar e experimentar, com surpresas em cantos minúsculos e oportunidades de revisitar fases anteriores para descobrir segredos antes esquecidos. O resultado é uma sensação permanente de progressão e nostalgia, onde cada item ou desafio supera a mera repetição por ser significante dentro daquele microcosmo ludicamente bem desenhado.

Há jogos que se preocupam em criar rampas de dificuldade cada vez mais íngremes, como se temessem que sua “facilidade” fosse sinônimo de mediocridade. Pac-Man World 2 Re-Pac, por sua vez, aceita — e valoriza — ser leve, fácil, acessível. Não há a necessidade de “provar algo” ao forçar o jogador a repetir seções dezenas de vezes, tampouco castiga com plataformas punitivas ou bosses ultra complexos unicamente para parecer relevante. Ao contrário, o jogo investe na produção contínua de serotonina no cérebro. Cada avanço, cada caixa aberta, cada item coletado, serve à satisfação instantânea e ao desejo natural de seguir explorando, sem ansiedade, sem frustração.

Isso não quer dizer que o jogo não possua desafios; eles existem, sobretudo nos chefes e nos modos de time trial. Mas até esses momentos mais “duros” estão desenhados para manter o fluxo e não causar exaustão. O modo “fácil”, implementado para ampliar a acessibilidade, permite que mais jogadores experimentem a aventura sem encontrar barreiras injustas pelo caminho.

É inegável o carisma dos cenários em Pac-Man World 2 Re-Pac. Se por um lado eles soam genéricos (primeiro, os verdes pastos, depois as florestas, etc), existe algum prazer ensolarado em andar por paisagens tão simples quanto quadrinhos de Maurício de Souza. Seja ao subir em trampolins no Arvoredo Altanado, patinando no gelo das Montanhas Nevadas ou assumindo o controle do Pac-Marino nas profundezas do Oceano, cada mundo tem personalidade charmosa, sem pretensões de mudar o mundo.

O curioso é que, apesar das fases não serem grandes em tamanho absoluto, há uma riqueza de conteúdo concentrada em cada espaço percorrido. Pequenos desafios, segredos, easter eggs, passagens escondidas e colecionáveis abundam em ambientes compactos, incentivando vários estilos de exploração: do avanço linear ao revisitamento obsessivo, tudo compõe o charme singular do jogo. Isso pode se mostrar uma decepção para aqueles que só buscam vencer a fase atravessando-a

Esse arroz e feijão dá para comer puro

Uma das qualidades mais notórias deste remake é a intuitividade dos controles e a amplitude dos movimentos à disposição. Pac-Man possui pulo, corrida, salto de bunda, arremesso de pac-dots, controle de direção fácil e ainda pode utilizar power-ups específicos para situações determinadas. Tudo é sensível, fácil de aprender, com pouca curva de aprendizado e muita satisfação nos detalhes de execução. Como pode ter notado, não é um repertório pequeno de ações, mas tudo é colocado numa boa cadência.

O principal mérito, no entanto, está no level design: cada movimento possui razão de existir e é sistematicamente exigido do jogador durante o progresso. O design dos mapas e desafios sempre solicita as habilidades adquiridas, impedindo que qualquer mecânica se torne redundante ou subaproveitada. Isso assegura uma sensação constante de variedade, acaba com a previsibilidade e combate a rotina — a cada trecho de fase surgem pequenas variações, situações únicas e oportunidades de surpresa que atestam a criatividade da equipe de desenvolvimento. E não me entenda mal: nada é revolucionário, nada é explosivo e espetaculoso. Não existem artimanhas visuais e sonoras para ludibriar o jogador.

Para quem nutre saudade dos sistemas clássicos de vidas — aqueles coraçõezinhos, frutas e objetos — Pac-Man World 2 Re-Pac é um banquete. A mecânica tradicional convive com novidades: moedas para comprar brinquedos e skins no hub central, letreiros para desbloquear fases bônus, e pac-dots utilizados para ativar poderes especiais.

Ao completar uma fase, o jogo não apenas recompensa com desbloqueios e acesso a colecionáveis, mas também abre o desafio de time trial, expandindo a longevidade da aventura por meio de placares mundiais on-line. Diferente de Donkey Kong ou outros títulos individualistas, esse sistema permite aos jogadores competir, compartilhar e revisitar fases de formas criativas e cronometradas, agregando camadas de profundidade a uma experiência que seria, de outra forma, linear e no fim, oferecendo algo mais, para quem o deseja.

Estruturalmente falando

O jogo se divide em seis mundos distintos, cada um com ambientação própria — de jardins a vulcões, passando por áreas subaquáticas — culminando em batalhas contra chefes remodelados e criativos. Os chefes demandam uso de técnicas mais avançadas, seja dirigindo karts, resistindo a magnetismos enquanto se utiliza armaduras metálicas, ou explorando estratégias singulares para cada confronto. Não há monotonia nesses encontros; cada chefe apresenta mecânicas exclusivas e exige novas abordagens, elevando o nível de desafio da aventura e impulsionando a exploração dos movimentos do Pac-Man.

A presença das fases bônus e labirintos em estilo clássico, ativados ao cumprir tarefas e coletar itens, agrega replay value e instiga o desejo de dominar cada etapa. Para os completionistas, há ainda troféus e conquistas relacionados a mortes, speedruns e pontuação, incentivando revisitações e aprimoramento constante.

Uma evolução significativa no remake é a introdução do modo cooperativo local. Dois jogadores podem partir juntos em jornada pela Pac-Vila, aumentando o apelo nostálgico e democratizando ainda mais o acesso ao universo de Pac-Man World. Essa funcionalidade — inédita na série principal — proporciona experiências colaborativas em consoles modernos, sem a dependência dos modos online ausentes, mas elimina a barreira que limitava a diversão a uma aventura solitária.

Mesmo com ausência de multiplayer online, o modo local compensa trazendo amigos e família para a ação e aprendizado conjunto, fortalecendo o papel do jogo como ponte entre gerações. E sinceramente, não acho que o povo modernoso está se importando com modos online.

No aspecto gráfico, Pac-Man World 2 Re-Pac se destaca pelos ambientes cuidadosamente refeitos, efeitos visuais dinâmicos, texturas nítidas e compatibilidade total até o 4K em 60fps. A otimização abrange múltiplos consoles da nova geração, com versões para Switch, Switch 2, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC. Os controles, por sua vez, foram aprimorados com sensibilidade e responsividade em cada salto, corrida ou sequência de movimentos, tornando toda exploração intuitiva e prazerosa.

A modernização não alterou o feeling do clássico, mas ajustou detalhes técnicos para garantir que o jogador nunca se sinta “travado” ou frustrado por limitações mecânicas.

Apesar de todas as qualidades, é importante reconhecer que Pac-Man World 2 Re-Pac não arrisca grandes revoluções: permanece fiel ao que definiu o original, inserindo apenas ajustes pontuais para conquistar novas gerações. Não há cosméticos exagerados, integração on-line ou adição de novos modos, fatores que poderiam expandir a longevidade do título.

Para alguns, essa opção pode soar conservadora, recusando a oportunidade de reinventar a roda ou ampliar seu universo para além dos limites impostos pelo clássico de 2002. Pessoalmente, vejo nisso uma decisão consciente: preservar o que funcionava, trazer melhorias técnicas e visuais, mas sem transformar completamente o espírito da série.

Terminando minha jornada por Pac-Man World 2 Re-Pac, carrego um sentimento genuíno de alegria e realização — uma “volta à infância”, mas sem as amarras do passado. Poucos jogos hoje entregam diversão pura, com mecânicas de coleta bem pensadas, cenários charmosos, variedade de estratégias e o resgate de sistemas clássicos que não se perdem em explicações ou interfaces sobrecarregadas.

O remake acerta ao apostar em uma experiência lúdica, leve, acolhedora e intuitiva. Confirma que há espaço para o género de plataforma 3D e colectathon retornar ao mainstream, sem depender sempre de Mario ou Astro Bot para renovar o entusiasmo dos jogadores. Pac-Man World 2 Re-Pac é um convite para redescobrir o prazer do que é simples e genuíno. E, se depender de mim, será celebrado como um dos títulos que mais contribuem para a expansão desse gênero — pelo menos enquanto houver quem aprecie a pura sensação de felicidade ao coletar, explorar e conquistar.

Este artigo foi possível graças a uma chave de análise gentilmente concedida pela Bandai Namco.

Pac-Man World 2 Repac

SCORE - 7.9

7.9

MUITO BOM

Me parece que por supostamente ser um gênero dominado se comparado a outras coisas complexas como jogos Bethesda-like, este título oferece o que pode dentro de seu segmento, sem se estragar por momentos, por ter uma trama complicada de possibilidades ocorrendo. Conte apenas com sua real destreza, senso de timing de botão e noção espacial. A parte digital faz todo o seu trabalho como ser humano fluir: a câmera dá uma boa assistência e as outras regras que regem Pac-Man Wold 2 Repac estão a favor do jogador. Se a sua simplicidade moral, estética e não contemporânea não agrada a galerinha a ponto de dar um 7 para o título, ao menos eu posso dizer que minha experiência foi muito agradável e é sempre uma sensação boa quando não se espera tanto.

Sair da versão mobile