O Dia em que Sonic largou na frente de Mario – Sonic Racing Crossworlds

Aqui começo expressando o que muita gente que me conhece, sabe sobre mim: Não sou um fã de Sonic. Quase muito contrário disso. Não sou um revolucionário, pois até o fã está acostumado a concordar com os erros do Sonic como jogos. Porém, isso se reserva a jogos que não sejam jogos de corrida de kart baseados no Sonic. “Sonic Racing Crossworlds” não é só mais um jogo de corrida de mascote — é o momento em que Sonic cruza aquela linha de chegada antes de Mario, pelo menos em termos de produto final bem resolvido. E aqui, explico porque.

Desde o momento em que ligamos “Sonic Racing Crossworlds”, fica claro que o título é polido, coeso, veloz e com bons lotes para o terreno do futuro. Não há aquela hesitação, aquele medo de ser “mais um” no segmento — há postura, há confiança.

Se compararmos diretamente com “Mario Kart World”, fica evidente que a Nintendo exagerou no comprimento da “manga” do seu produto inicial, segurando truques, deixando pairando no ar ideias obvias não executadas, supostamente no cofre misterioso do 1.0, sem garantia de mudanças substanciais em futuras atualizações — uma tática que, por enquanto, trava um potencial que fez falta. Sonic Racing Crossworlds, por outro lado, não tenta reinventar a roda a cada segundo: seu polimento está pronto, disponível e completamente funcional já no lançamento.

E não tem como negar, Sonic Racing Crossworlds é profundamente influenciado por Mario Kart 8 Deluxe. Mas não é um plágio: ele reconstrói algo sobre aquela base de mecânicas, física, gadgets e ritmo que Mario estabeleceu como padrão ouro. O êxito de Sonic Racing Crossworlds está em pegar os melhores elementos daquela fórmula e acrescentar suas próprias ideias: portais interdimensionais, gadgets customizáveis, pistas caóticas e produção musical digna das melhores trilhas do segmento.

A adição dos portais “CrossWorlds” é brilhante e crucial. Durante a corrida, o primeiro colocado parcial decide em qual segmento de pista alternativa todos os pilotos serão lançados — criando situações onde cada volta é diferente, e nenhuma corrida soa igual à anterior. Este sistema eleva a estratégia, muda totalmente a preparação de cada volta e elimina qualquer monotonia potencial: algo que o gênero totalmente se beneficia.

Time Sonic sempre é um escorrego

Agora, se tem algo que me incomoda, é que essa base de jogo de corrida não se aproveitou tanto do potencial de crossovers com outras franquias da SEGA, diferente dos dois Sonic Racing anteriores (tirando o Team Racing – que se entregou de corpo e alma ao hoster desimportante Sonic). Aqui em Crossworlds, os crossovers foram segurados, talvez por estratégia da SEGA em expandir o conteúdo a longo prazo nos DLCs e Season Pass. Mas olha, pelo menos as pistas poderiam entregar mais referências — mais oscilação entre universos, mais homenagens divertidas. Do jeito que está, só o núcleo Sonic domina, e eu esperava ver mais Space Channel 5, Jet Set Radio, e por aí vai. Soa simplesmente como um passo atrás de Transformed e uma relutância em não ser como o criticado Sonic Team Racing.

É uma estratégia válida a SEGA segurar os crossovers para o longo prazo, mas seria ideal se pelo menos as pistas mostrassem esses acenos já de início — deixaria o jogo com cara de celebração ampla da história da SEGA. O conteúdo atual ainda é de qualidade, com pistas cheias de alternativas, rotas secretas e eventos especiais em cada copa. A ação nas pistas é caótica, vibrante, e nunca dá tempo de respirar, mas há espaço para crescer nesse aspecto cross, tanto em visuais quanto em mecânicas exclusivas por série. Pessoalmente eu acho que uma pista que transpira homenagens a alguma franquia perdida da SEGA é algo mais valioso do que o próprio personagem de DLC.

Se o conteúdo crossover é um ponto de melhoria, a qualidade do conjunto já disponível é inegável. Todos os personagens têm papéis bem definidos, os gadgets influenciam diretamente no resultado, e o design das pistas é pensado para estimular a agressividade e inteligência do piloto. O jogo nunca soa barato, nunca soa desleixado: dá gosto ver uma SEGA que aposta alto e acerta.

Larissa, não quero seus beijos

Foco em meio a tempestade colorida

O ritmo do jogo é um caminhão que vem, te atropela e você não anota a placa. As pistas e a ação caótica disputam a atenção do jogador, e às vezes fica complicado exercer com maestria o papel de piloto e o papel de combatente. Entre boosts, gadgets e portais, a tela se transforma numa amalgama de luzes e efeitos que desafia os olhos e a coordenação. Aprender a dominar essa dualidade vira parte do meta — se quiser vencer, tem de ser bom tanto no volante quanto no comando dos gadgets de ataque e defesa. Sinto que existem mais formas de defesa oferecidas pelo sistema se compararmos com o jogo da Nintendo. Isso quer dizer que invés de muitas vezes contar com a sorte quando se há um ‘casco azaul’ na jogada, vamos precisar de foco e timing no meio do fim do mundo.

Nem tudo é perfeito. A IA da CPU tem vícios irritantes; existe, por exemplo, uma tendência forte de os rivais ganharem a primeira corrida da copa, como se o jogo tentasse criar uma disputa artificial. Não chega a estragar a experiência, mas é perceptível e pode frustrar quem busca equilíbrio desde o começo, jogando fora por vezes o sentido de se estar participando desta primeira etapa. Incentiva, aliás, a buscar ainda mais customizações, gadgets e até aprender as rotas alternativas para quebrar esse padrão — afinal, parte da graça da série Sonic está no improviso constante. A escalada é lenta. Para melhorias, será necessário repetir muitos conteúdos, mas há o suficiente para se fazer aqui, enquanto isso.

Progressão favorita em corridas

Talvez Sonic Racing Crossworlds tenha a melhor progressão em meio de corrida, dentro desses jogos de kart. Cada volta é uma experiência diferente graças ao sistema de portais e à decisão do primeiro colocado, que pode (e deve) escolher rotas que mudam radicalmente o rumo da competição. São duas opções: um local sempre será uma viagem condicionada à pista atual (mas sempre sendo um destino radicalmente diferente) e a outra opção é randomizada. Nenhuma volta soa como a anterior, e isso dá aquela sensação deliciosa de frescor: sempre há algo novo para ser conquistado, dominado ou aprendido.

Esse sistema coloca todo mundo em alerta e, ao mesmo tempo, aquecendo o clima competitivo — nunca dá para prever totalmente o que vai rolar no próximo trecho, ainda mais que, o sistema de troca imediata de tipo de veículos de Transformed, ainda está presente.

Para coroar, o fim de cada copa é uma corrida épica com segmentos das pistas anteriores da mesma copa. É uma experiência que funciona como “best of” da etapa, reunindo o que há de melhor e mais exigente para fechar com chave de ouro. Essa composição mostra respeito à memória do jogador, à curva de desafio e ao prazer em desafiar-se com trechos conhecidos, mas repaginados.

Derrapadas

Aqui vai uma crítica que não posso ignorar: a progressão em singleplayer ainda é inferior ao lendário “Sonic & All-Stars Racing Transformed”. Faltam variedades de objetivos extras, modos criativos ou minigames à parte. O foco se mantém na corrida contra adversários, o que é bom para o ritmo, mas limita um pouco o fator replay. É algo muito mais aproximado de Mario Kart 8 Deluxe. “Transformed” acertou tanto nesse sentido que é impossível não sentir falta e que esse tipo de pacote seja louvado, assim como o primeiro jogo de corrida do Crash Bandicoot foi.

O que há agora é sólido, focado, mas seria enriquecido com mais incentivos complementares. Talvez algo que venha nos DLCs ou eventuais atualizações futuras, mas estruturalmente, não acho que irá acontecer.

Apesar do detalhe acima, Sonic Racing Crossworlds ainda é “gordo” de conteúdo. Melhorias, gadgets, assistências, equipagem vasta — tudo angariado por moedas que se ganham por partidas, tal como ganhamos moedas por partidas nos recentes Mortal Kombat. O sistema permite construir um piloto com perfil único, balanceando atributos e combinando gadgets para o estilo preferido. Quem gosta de explorar até o último menu — testar configurações, aprimorar performances, buscar o melhor build — vai encontrar um oceano de possibilidades para se afundar.

A customização pode ser visualmente confusa — menus, opções e ícones para todos os gostos — mas é rica em variedade. Para quem busca dominar todos os aspectos do jogo, montar builds perfeitos, ou apenas brincar com o visual, é um prato cheio. Só requer um pouco de paciência até se habituar ao excesso de opções e atalhos. Esse aspecto acompanha a tendência dos jogos modernos de “gamificar” até o menu de configurações, mas a SEGA acertou em permitir que cada piloto tenha seu próprio estilo na pista.

O caos da corrida é lapidado por uma trilha musical insana, especialmente quando os corais operescos entram em cena na última volta. O som cresce, empolga e transforma o momento em ápice dramático — a adrenalina vai às alturas, e cada curva se torna potencialmente decisiva.

A oferta de DLCs e um season pass bem estruturado promete manter jogadores ocupados e renovando interesse ao longo da vida útil do jogo. É aqui que espero ver os conteúdos crossover crescerem — personagens, pistas, gadgets inéditos, eventos temáticos. Não há dúvida de que a SEGA aprendeu com os erros e acertos dos concorrentes, e está preparada para alimentar o fandom do Sonic Racing ao longo dos meses e anos.

Em contrapartida, Mario Kart World permanece estático, esperando suas promessas de updates se concretizarem. Não é só Sonic que larga na frente; é a SEGA que entendeu como manter seu público engajado de forma inteligente.

No fim das contas, “Sonic Racing Crossworlds” representa o dia em que Sonic largou na frente de Mario, quebrando décadas de supremacia nos kart racers. É um jogo ousado, polido e generoso — um “produto de lançamento” bem resolvido, com progressão instigante, mecânicas inovadoras e ação que nunca cansa.

Fico desejando mais crossovers da SEGA além de personagens. Quem sabe modos extras e ou uma evolução na campanha singleplayer, mas nada disso diminui o valor do que temos já em mãos. O título entrega a promessa de diversão desenfreada, caos controlado e desafio contínuo, tudo embalado por uma trilha digna dos grandes eventos.

É o tipo de jogo que acompanha o crescimento do mito Sonic, mostra que a SEGA está de volta aos bons tempos, e dá ao gênero a renovação que Mario ficou devendo — pelo menos por agora.

Esta análise foi possível graças ao código fornecido gentilmente pela SEGA.

SONIC RACING: CROSSWORLDS

SCORE - 8.3

8.3

MUITO BOM

Apesar de uma gangue desimportante de personagens do universo Sonic estar em peso aqui e as pistas pouco sinalizarem crossovers da SEGA, todo resto de Sonic Racing Crossworlds é uma tremenda comfort food para baixinhos e altinhos.

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