Após meses de viagem, Ardeshir, protagonista de Nocturnal, encontra sua ilha nativa, Nahran, coberta por uma misteriosa névoa. Acima de tudo, o soldado persa possui um outro objetivo: encontra Arsia, a sua irmã. Por si só, o nome de Arsia é algo intimamente ligado à mecânica do seu irmão. Todavia, deixarei este pequeno grande detalha para mais à frente desta crítica.
Ao avançar mais pela ilha, Ardeshir percebe que vários corpos estão pelo caminho. Além disso, ele não consegue encontrar a sua irmã e, ao mesmo tempo, descobre que terá que avançar pela névoa, que é mortal.
Como o nosso protagonista é conhecido como o soldado da Chama Perpétua, ele precisará abrir seu caminho pela agora perigosíssima Nahran através do fogo. Aliás, fogo e aço, já que o soldado conta com a sua espada para atacar os inimigos e destruir as coisas pelo caminho.
AS MECÂNICAS DE NOCTURNAL
Para seguir seu caminho por Nahran, o jogo exige que o jogador cumpra com algumas ações básicas. Dentre estas ações, a principal, e que seguirá sendo realizada até o fim do jogo, envolve iluminar os espaços da ilha. A iluminação, em grande parte, se dá nos locais em que luzes naturais não alcançam. Portanto, em cavernas e outros locais fechados.
As mecânicas ao longo das cerca de cinco ou seis horas de gameplay não serão muitas. Ardeshir pode andar, correr, pular, atacar enquanto pula (dash ofensivo), rebater projéteis, disparar facas e rajadas de fogo. Com exceção de algo que ocorre perto do fim de Nocturnal, estas são todas as mecânicas do personagem.
Todas as mecânicas não seriam o que são se o level design não estivesse à altura. Dessa forma, não há o que reclamar: Nocturnal é um jogo de plataforma 2D com desafios bastante recorrentes a cada área visitada.
A cada sala e área, não sabemos os desafios impostos pela névoa. Em alguns momentos, basta apenas que corramos contra o tempo para acendermos as piras. Contudo, em outros, um forte inimigo ou meia dúzia de inimigos medianos podem estar no aguardo do jogador.
Tudo isso, claro, tendo que manter a atenção na barra de tempo da chama, que não pode apagar. Caso apague, a barra porá fim à proteção momentânea de Ardeshir em meio à escuridão. Com o fim da proteção, a escuridão rapidamente tomará conta da tela e sugará a vida do soldado, levando-os ao game over.
O FOGO REVELADOR
Na alvorada da criação, existiam dois mundos que se antagonizavam. Um dos mundos, o segundo para se viver, avançou sob a chama da Fênix. Já o outro, um espaço de traição e trevas, era banhado sob a Névoa infinita e misteriosa. O fogo da Fênix, nesse sentido, veio como um presente dos céus, para dissipar as trevas de Nahran.
À medida que avançamos no jogo, não só dissipamos a névoa, como também descobrimos mais a sobre a ilha e seus habitantes. Assim como em Planet of Lana, nossa jornada pela ilha envolve buscar e salvar a irmã do protagonista. E em um mundo caótico e cheio de perigos.
E é óbvio que ao jogador mais atento, será possível perceber o que ocorreu com Arsia. Há diálogos muitos claros e até expositivos sobre o ocorrido na ilha desde o início. Tudo devidamente localizado em nosso idioma, por sinal.
ASPECTOS DA JOGABILIDADE
Como em muitos jogos lançados nos últimos quase vinte anos, Nocturnal conta com a sua própria árvore de habilidades. Apesar de não ser longa, afinal, o jogo é bastante curto, preencher a árvore é um desafio e tanto. Dos bons, contudo. Cada elemento da árvore vai sendo liberado pela coleta de pequenas chamas ao longo do jogo. As chamas, inclusive, ou aparecem pelo caminho ou estão escondidas em locais ou paredes secretas.
Apesar de não ser um metroidvania no aspecto mais abrangente da palavra, Nocturnal chega a lembrar um. E ele não o é integralmente justamente por conta da exigência de rapidez por parte da jogabilidade.
Existe, por exemplo, o que vou chamar de “Cronômetro das Chamas”. Nele, o jogador deve ser ágil para acender e não deixar apagar as chamas. Portanto, exige-se uma extrema agilidade no controle para que Ardeshir não deixe a chama anterior apagar antes de acender a próxima pira.
Este tipo de mecânica eleva o nível de desafio e consequentemente de divertimento do jogo. Além disso, diferencia o jogo fazendo-o ser bastante único entre jogos do mesmo estilo.
UM TRABALHO DE OURO E FLAMEJANTE
A Sunnyside Games, estúdio suíço responsável pelo desenvolvimento do game, criou um jogo único. Apesar de ser bastante curto, durando apenas 5 ou 6 horas, é uma obra cativante. Reside, justamente em sua pouca duração, o seu maior problema. Terminado o jogo, não há muito o que fazer em seguida. Até há, na realidade, que é o modo speedrun. Contudo, se não se é um adepto deste tipo de desafio, não haverá muito o que se fazer após finalizar-se o jogo.
Sem falar que seus desafios e plataformas homenageiam Prince of Persia, uma das maiores inspirações de Nocturnal.
Que a Sunnyside possa seguir apostando em jogos inventivos e que nos desafiem, encantem e sejam divertidos.