Antes de mais nada, preciso deixar claro duas coisas: a primeira é que felizmente isso aqui é uma análise em texto, pois eu jamais conseguiria pronunciar de maneira correta “Naheulbeuk”. A segunda é sobre do que se trata Naheulbeuk. Sobre essa segunda, o que é mais importante, precisamos voltar para o longínquo ano de 2001.
Embarcando nas Origens
Se você não é um entusiasta de RPG que aprecia audio drama europeu do início dos anos 2000, a resposta sobre seu conhecimento de Naheulbeuk, provavelmente, é “não faço ideia”. Estamos diante de uma paródia francesa de RPG que surgiu na internet em 2001, narrando a jornada de um grupo de aventureiros por um mundo no estilo Dungeons & Dragons, repleto de magia, comédia e habitantes imaginários comuns a esse universo. Elfos, anões, Rangers e bárbaros coexistem em cidades com nomes como Glargh, enquanto um grande mal chamado Zangdar persiste em causar problemas.
Este RPG se tornou popular ao longo dos anos exatamente por parodiar algo que por muitas vezes se levava a sério demais. Ele surgiu exatamente em um momento em que fãs de Dungeons and Dragons reclamavam do tom mais sério que a Wizards of the Coast estava entregando nas últimas edições. Foi aí que fãs veteranos de D&D criaram uma narrativa altamente satírica que se manteve em relevância com a comunidade ao longo dos anos, expandindo-se além da série original de áudio para incluir livros, histórias em quadrinhos, jogos de tabuleiro e, agora, novamente, um videogame.
Gerenciando o Caos
Em “Naheulbeuk’s Dungeon Master”, você é o mestre da sua própria masmorra e assume a tarefa de esculpir quartos em seu covil, preenchê-los com diversas instalações para atrair novos clientes e acumular riqueza suficiente para expandir seu domínio. De maneira semelhante à clássica franquia “Dungeon Keeper” da Bullfrog, o jogo exige que você equilibre múltiplas tarefas, mantendo seus subordinados contentes para evitar conflitos internos que poderiam prejudicar suas operações.
A complexidade da gestão é evidente, com problemas de Recursos Humanos que podem surgir se não forem tratados adequadamente. Lidar com greves e problemas de relacionamento torna-se crucial. Essa abordagem única ao mundo de fantasia adiciona uma camada de complexidade que raramente é abordada em jogos desse gênero, o que já mostra que temos aqui um jogo para ficar de olho.
As masmorras são sujas, cheias de armadilhas e tesouros, proporcionando uma experiência bem mais próxima de algo mais imersivo. A decoração não é apenas estética; é crucial para atender às demandas dos diversos habitantes que chamam sua masmorra de lar. Elfos, orcs, humanos e anões, cada um com suas peculiaridades, precisam ser satisfeitos para que sua masmorra ganhe reputação. Neste quesito, podemos ver uma clara inspiração em outro jogo que “Naheulbeuk’s Dungeon Master” busca, a franquia “Two Point”.
Inovação nos Ataques e Narrativa Cômica
Um dos aspectos mais inovadores do jogo é a maneira como lida com os ataques de aventureiros. Ganhar reputação suficiente não atrai apenas novos subordinados; também chama a atenção de aventureiros ávidos por saquear suas salas de tesouro. Neste ponto, o jogo se destaca, exigindo que você defenda sua masmorra contra invasores.
Você pode optar por abordagens convencionais, como usar guardas e armadilhas, ou recorrer a métodos mais criativos para distrair os intrusos. A capacidade de mostrar a um grupo de anões uma bandeja de canecas cheias ou a um grupo de elfos um monte de bichinhos de pelúcia para detê-los no meio do caminho é um toque inovador. Capturar esses aventureiros pode levá-los a se juntarem aos seus grupos de ataque ou, se preferir, despachá-los em missões de saques para coletar o tesouro de outras tavernas para você.
Um Mergulho Profundo na Masmorra
Ao assumir o papel de um humilde duende em busca de emprego, você é contratado por Naheulbeuk para gerenciar todos os aspectos da masmorra. Desde a taverna até as tarefas mais mundanas, sua missão é garantir que seu mestre possa expandir sua influência e provar ser o mago mais poderoso do país. No entanto, o que começa como uma tarefa aparentemente simples se desdobra em uma história complexa e irônica.
A história do jogo mergulha nas origens do seu personagem, um meio-goblin com uma Certificação de Ajudante de Guerra Amargurado. Discriminado pela sociedade, você aceita um emprego que envolve administrar uma masmorra independente, considerada uma das joias das Terras de Fangh. O anúncio menciona o desejo de levar a masmorra para o próximo nível, com Zangdar, o feiticeiro responsável, elogiando suas defesas, armadilhas e tesouros. Desde a impossibilidade de realizar um trabalho adequado no covil até os desafios de lidar com a burocracia da Associação dos Proprietários de Masmorras de Fangh (APMF), uma espécie de associação de proprietários de masmorras que se assemelha a associações de condomínios, a trama se desenrola gradualmente, proporcionando uma experiência bem agradável, ao mesmo tempo que te apresenta, em forma de tutorial, as mecânicas do jogo.
A Diversidade de Desafios
A jogabilidade oferece uma fusão única de construção, gerenciamento e desafios estratégicos. A música e os efeitos sonoros, embora não revolucionários, são utilizáveis e contribuem para a atmosfera do jogo, enquanto o excelente trabalho de voz deixa o tom mais leve. Os gráficos, enquanto não deslumbrantes, atendem às necessidades do jogo, retratando efetivamente a atmosfera sombria e úmida das masmorras, permitindo que o controle de câmera possa aproximar para ver de perto os seus subordinados ou visitantes e clientes da masmorra.
A quantidade de desafios que você enfrenta é notável. Desde as complexidades da gestão de recursos humanos em um mundo de fantasia até a necessidade de projetar sua masmorra para atrair habitantes específicos, o jogo oferece uma experiência que eu não esperava que se tornasse tão desafiadora com o tempo. Cada decisão tem consequências, e a necessidade de equilibrar a reputação da masmorra com a segurança contra aventureiros gananciosos adiciona uma camada extra de complexidade, fazendo com que você pause o jogo apenas para pensar no próximo passo, já que lidar com a gestão financeira é crucial.
É preciso pagar salários, pagar manutenção, pagar impostos e ainda lidar com possíveis roubos à sua sala de tesouro por parte de aventureiros.
Além do modo história, o jogo entrega a cereja do bolo, que é o modo sandbox, que permite que você crie a sua masmorra da forma que você preferir e sem limites. Mas certamente, você optará por iniciar sua jornada no modo campanha, já que é lá onde você irá aprender as mecânicas vitais do jogo.
Uma Adição Única ao Gênero
“Naheulbeuk’s Dungeon Master” parece oferecer uma experiência única e inovadora dentro do gênero de simuladores de gerenciamento de sandbox. A combinação de elementos de construção de masmorras, gerenciamento de recursos e uma narrativa engraçada faz de Naheulbeuk’s, que já havia agradado fãs de RPG táticos com “Naheulbeuk The Amulet Of Chaos” em 2020, seguir os mesmos passos positivos e entregar um novo jogo no mesmo universo, mas com gênero completamente diferente, mesclando o melhor de “Dungeon Keeper” e o melhor de “Two Point Hospital”.
Ao entrar nas profundezas perigosas das masmorras de Naheulbeuk, os jogadores podem esperar uma jornada repleta de desafios, com toques de humor satírico e uma quantidade infinita de progressão. O jogo não apenas oferece a oportunidade de construir a masmorra perfeita, mas também mergulha nas complexidades da vida do mestre dela, enfrentando não apenas monstros e aventureiros, mas também os dilemas da administração e da burocracia.
“Naheulbeuk’s Dungeon Master” chega para PC no dia 15 de Novembro e está disponível na Steam.