Jogos indies: eles não prometem nada e entregam tudo

Sempre que uma nova geração de consoles é iniciada, há toda uma celeuma sobre teraflops, FPS, SSD e termos com upscalling e ray-tracing vão se tornando mais populares no linguajar dos jogadores. Este texto discutirá alguns pontos que travam certos avanços da indústria. Ao mesmo tempo, o texto é sobre os jogos indies, a verdadeira revolução que muita gente teima em ignorar.

A indústria e as redes sociais são aquecidas através dos debates que vão surgindo. São, em geral, debates em torno de qual console possui a melhor arquitetura e será mais potente. Esse tipo de conteúdo acaba gerando pageviews para os sites e muitas interações nas redes sociais dos influenciadores.

No centro de tudo, claro, está o jogador. Independente do linguajar técnico nas notícias e das milionárias campanhas de marketing, o jogador é a principal mola de propulsão do (in)sucesso de um jogo. Afinal, é ele que pagará ou não pela obra tão rebuscada e repleta de investimentos milionários em sua produção. Porém, apesar da promessa de imagens em resolução 8K e gráficos correndo aos 120fps, não é o que temos visto. E estes não são, necessariamente, um problema. Ao menos não para os jogos indies.

Em todo caso, as promessas se mostram falhas à medida que algumas situações se impõem a cada jogo lançado.

O futuro preso ao passado

A cada geração, principalmente em seus primeiros 2 ou 3 anos, vemos jogos que não conseguem brilhar em todo o seu potencial. Para não buscar exemplos muito distantes no tempo, basta nos apegarmos ao exemplo recente de Horizon Forbidden West.

Quando lançado, em fevereiro de 2022, ele ainda estava apto a rodar em consoles PS4 (de novembro de 2013). Para todos os efeitos, a Sony e a Guerrilla Games fizeram o que delas se esperava. A decisão logística garantiu que um jogo de 2022 pudesse ser jogado em um console de 2013. E em 2013, lembremos, sequer existia o primeiro jogo, o Horizon Zero Dawn. O PS3, assim, cuja arquitetura foi pensada há mais de uma década antes do segundo jogo, rodou Forbidden West.

É óbvio que esse tipo de iniciativa é boa para o jogador que ainda não possui condições de adquirir o seu Playstation 5. E a iniciativa é ainda melhor para a Sony, pois ela vende mais algumas milhares ou milhões de cópias do jogo.

Só que eis que chegamos em 2023 e temos o lançamento de Horizon Forbidden West: Burning Shores. O título é uma DLC ao jogo base que trouxe significativas melhorias de desempenho e, vejam só, de jogabilidade. O aprimoramento gráfico e de jogabilidade, contudo, veio acompanhado de uma “surpresa”: a DLC não seria lançada para o PS4.

Onde entram os jogos indies?

Do outro lado (e ao mesmo tempo dentro) da indústria, temos os jogos indies. Do meio do início deste século até aqui, temos visto jogos indies movimentando a indústria. São jogos que surpreendem por diversos fatores: originalidade, histórias cativantes, gameplay arrojada e inventiva, preço e tudo isso junto, também.

Ainda assim, uma obra indie, sozinha, não irá sustentar a indústria, nem muito menos enterrar um estúdio inteiro. O contrário, na realidade, até pode acontecer. Um indie pode salvar um estúdio, ou ainda catapultá-lo para o sucesso (basta lembrarmos do caso da Aquiris Game Studio, desenvolvedora brasileira adquirida pela Epic Games).

Ou seja, os jogos indies, em variados casos, já movimentaram algum cenário da indústria de jogos. Foi assim com Limbo e a sua proposta minimalista de fazer mais, com menos. Ou Fez, do Phil Fish, e sua lógica de gameplay geometricamente original e elegante.

Ou tantos outros: Braid, Minecraft, Papers, Please, Super Meat Boy, Cuphead, Disco Elysium, Horizon Chase Turbo, Stardew Valley, Shovel Knight, Gone Home, Celeste, Dandara, Undertale, Terraria, Fobia, The Stanley Parable, Among Us, Unsighted e centenas de outros mais.

Por sinal, vocês leram os textos do Supernovas sobre The Master’s Pupil e Robotherapy, dois excelentes jogos indies lançados recentemente? Ainda não?

Existe vida para além do universo dos jogos Triple A. Enquanto os pesos pesados da indústria quebram cabeça para fazer com que seus jogos rodem em 4K e 60fps (lembrem que a proposta inicial era rodar jogos em 8K e 120fps), os jogos indies caminham muito bem.

Jogue mais jogos indies

Aliás, não só jogue, mas, valorize os desenvolvedores de jogos indies. Quando a gente menos espera, há fantásticas histórias por trás do desenvolvimento de um game indie. O Lucas Molina é uma prova viva disso. Leiam a nossa entrevista com ele.

Ao final de tudo, este texto não é uma defesa dos jogos indies em detrimento dos jogos Triple A. Longe disso. Há espaço para todos e, convenhamos, os grandes jogos já possuem seu terreno próprio. Eles disputam entre eles, não com os indies.

Este texto apenas quer mostrar que os indies não precisam nos prometer nada. Eles apenas entregam.

Apesar disso, mesmo não prometendo nada e muitas entregando bastante, em muitos casos, os desenvolvedores e os pequenos estúdios indies acabam sendo bem mais cobrados que as empresas por trás de jogos que custaram, 100, 200 ou até mesmo 300 milhões de dólares para serem produzidos. Phil Fish e toda a sua estafa mental ao produzir Fez que o digam. Fica a dica do documentário Indie Game: The Movie, por sinal.

Fica a torcida para que mais jogos indies surjam, façam sucesso e se destaquem. Ao final de tudo, o sucesso do jogo gera o contentamento e a felicidade do jogador.

A opinião exposta no artigo é de caráter pessoal e não necessariamente é a opinião do Supernovas.

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