Indiana Jones and the Great Circle: Uma porta de entrada para quem quer variar o ‘paladar juvenil’

Já era hora de trocar Sessão da Tarde por Mubi (com bastante açucar, por favor)

Me amarro em brócolis. Mas espera lá! Chuchu, cheiro verde e jiló já são hardcore demais para mim. Indiana Jones and the Great Circle é a minha papinha.

Talvez ainda existam pessoas acreditando que Indiana Jones and the Great Circle é um jogo similar a Uncharted, ou, ainda mais grave: que acreditam que The Great Circle tem a responsabilidade de competir e ser igual ao jogo de Nathan Drake.

Para qualquer efeito, para o bem ou para o mal, o mais novo exclusivo das plataformas da Microsoft (não por muito tempo) é diferente de um filme da Temperatura Máxima. Nele, você terá que pensar, ler e passear de um lado para o outro. Só isso, por si só, já é suficiente para desanimar aqueles que estão nessa vida apenas pelas figurinhas do livro, em vez de se dedicarem a coisas que produzem um resultado por meio de um trabalho mais orgânico do cérebro.

O começo do jogo é uma recriação quase 1:1 do filme, como forma de homenagem

Não compare laranjas com cadeiras

Comparado às grandes set pieces de ação de jogos AAA, aqui estamos lidando com algo mais brando, que prefere dar um ar de realismo. Isso faz com que os momentos de tirar o fôlego sejam reservados às situações de tons totalmente diferentes.

Também acho plausível que parte do público não sinta apelo vindo de Indiana Jones por si só, e que, por isso, seja necessário que o jogo se sustente por si próprio, independentemente de suas licenças.

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Pois bem, a melhor comparação que posso fornecer para o jogo da Machine Games é uma espécie de Dishonored, um immersive sim leve, que irá acelerar o coração, especialmente daqueles que gostam de mistérios relacionados a figuras e locais reais e históricos. Assassin’s Creed é uma franquia que despertou isso fortemente em mim, mas somente nos títulos II, Brotherhood e Origins. Portanto, não basta apenas apresentar um jogo que flerte com o amante da história; é preciso fazer uma verdadeira serenata para me conquistar.

Ator de Candy Man
Talvez o último trabalho do ator antes de sua morte?

Riddick, Thief ou Dishonored?

The Great Circle desperta esse interesse. Contudo, apesar de os três tipos de abordagem com os inimigos estarem plenamente funcionais aqui, a parte de espionagem e de “abatedor silencioso” é o campo onde o jogo, na totalidade, mais se inclina. Indy estará sempre em locais sitiados por criminosos contra a humanidade. Enquanto nosso historiador é apenas um criminoso particular, agindo contra a cultura mundial em prol de seu país de origem e de seu próprio orgulho. Isso certamente colocará um freio em quem gosta de circular por áreas de hub em um jogo. Catacumbas e lugares horripilantes abaixo da terra usarão as detalhadas instalações, sejam naturais ou construídas há muito tempo pelo homem, como falso palco. Esses, sim, serão os locais onde o protagonista poderá agir com mais liberdade, sem precisar andar agachado e esconder o rosto de generais.

Museu de Indy
O capricho está em todo lugar: dentro ou fora dos ambientes

Não adianta ser maduro somente na narrativa

No fim das contas, Indiana Jones and the Great Circle não é tão diferente do repertório que os estúdios da Microsoft vêm lançando. Não sinto que esse espectro de jogos no Xbox seja fruto de um acordo em comum entre os estúdios para serem assim. Suspeito que seja apenas um inconsciente coletivo que resolve produzir obras mais próximas do que víamos nos anos 90 em jogos de PC. Esses produtos voltavam-se a um público específico. Mesmo quando se tornavam populares, ainda não eram os jogos de resultados e entregas rápidas. Essa entrega se via na grande massa, ou seja, nos jogos de console.

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Portanto, o jogo se divide em duas partes. Enquanto não estamos sendo vistos pelos camisas pretas e nazistas na superfície, entramos em salas e distritos proibidos, utilizando telhados ou corredores discretos para, alcançando outro ponto da área. Nessa jornada, encontramos personagens para conversar, aceitar e resolver missões. É incrível como as missões secundárias e primárias se entrelaçam de forma espontânea. O tratamento com orçamento alto para cutscenes de alta prioridade é o mesmo dado para as menores. Sempre há uma narrativa forte que impede que os assuntos triviais realmente pareçam triviais aos olhos do jogador enquanto consumidor da obra digital.

Tesouro Nacional

Os grandes mistérios podem estar à plena vista: tijolos, estátuas mundanas ao olhar comum em uma viela ou uma fonte. Junto disso vem o molho adicional. São frases enigmáticas em latim e nosso herói sempre traduzindo e comentando as relações dessas coisas com a versão real do nosso mundo.

Talvez isso fique mais claro apenas a partir da terceira locação do jogo, mas este título contém uma das filosofias de game design que mais me agradam. Independentemente da direção que eu tome, desorientado e sem objetivos, consigo me ocupar minimamente. Antes que perceba, estou em uma missão que encontrei apenas ao vagar por aí. O fato de o personagem morrer com um ou dois tiros faz com que o cuidado e a hesitação falem mais alto. Isso torna as investidas mais emocionantes. Enfrentar a escória que são os nazistas adiciona um sabor de perigo adicional.

O vilão da vez
Vilões com rostos marcantes e grotescos são um tropo da Machine Games

Sanar a vontade de socar nazistas em 2025

Uma característica marcante da Machine Games é apresentar, em todas as suas obras, vilões com características e trejeitos horripilantes. Talvez isso se deva ao fato de eles serem, invariavelmente, pessoas que ocuparam cargos elevados dentro do Reich. Voss, em The Great Circle, não é exceção. Seu cabelo lambido, mas não perfeitamente alinhado, seus óculos redondos que deixam transparecer um olhar frio e que permitem um contato mais visceral, seus lábios vermelhos e carnudos, que dão mais peso a cada palavra pronunciada — tudo isso causa nojo e fascínio ao mesmo tempo. Você não vê a hora de ter a oportunidade de socar esse indivíduo nas bochechas.

Falando em socar, se você é alguém que resolveu se aventurar de maneira mais agressiva ou foi forçado pelas seções obrigatórias de combate corpo a corpo, notará que o jogo apresenta um sistema de luta elaborado, mas propositalmente disfuncional, de forma a preservar a humanidade do personagem. Assim, não espere socos imediatos ou a responsividade de um Super Punch-Out!. Quando não for obrigatório, o combate com os punhos é desencorajado. Para aqueles que optam por uma abordagem silenciosa, há sempre uma recompensa. Ela vem na forma de inúmeros objetos espalhados pelo cenário, usados como armas brancas — certamente o melhor recurso para nocautear um inimigo, além de serem eficazes para quebrar a guarda de um oponente.

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O combate é rico. Temos um gatilho esquerdo para socos de esquerda, outro gatilho para socos de direita; ambos também possuem ataques carregados. Há também um botão para bloqueio. Para completar, o jogo é confiante o suficiente para incluir um botão de esquiva, o “A”, que, fora do combate, é usado para pular. Embora o sistema seja realista demais, é impressionante como ele funciona bem em um jogo em primeira pessoa. Falando nisso…

Se safando de um puzzle mortal
As partes com ação impactante se apresentam na terceira pessoa

Não defenda um ponto de vista vergonhoso

Indiana Jones and the Great Circle definitivamente não é um jogo que funcionaria em terceira pessoa, por uma série de motivos. Embora ainda vejamos o personagem de fora durante escaladas ou ao usar o chicote para alcançar algum lugar (o que indica que o jogo não teria problemas técnicos para ser inteiramente em terceira pessoa e que bastaria uma linha de comando para ativar esse modo), a visão em primeira pessoa é essencial para valorizar as pequenas ações que enriquecem a jornada. Precisamos observar de perto os objetos, mesmo quando não estão em nossas mãos.

Precisamos examinar os detalhes das paredes e outros elementos para identificar segredos. E, por fim, mas não menos importante, a perspectiva em primeira pessoa torna a aventura mais pessoal do que nunca. Não se trata de assistir Indiana Jones sendo controlado; trata-se de estar no corpo dele, assumindo maior responsabilidade pelo que faço e digo [quando sou confrontado por um nazista].

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Indiana Jones and the Great Circle apresenta alguns bugs ocasionais, como inimigos vagando estranhamente ou objetos e itens flutuando em locais errados durante cutscenes. No entanto, absolutamente nada disso ofusca o espírito aventureiro de quem se dispõe a explorar as catacumbas. É gratificante completar todas as missões em cada um dos grandes mapas. Além disso, o jogo permite que você progrida na história e revisite mapas anteriores para finalizar missões secundárias, levando itens obtidos em fases posteriores para desbloquear objetivos nas primeiras fases.

Lugares reais, gráficos reais
Prepare-se para visitar por fora e dentro dos lugares mais enigmáticos da humanidade, como o sítio das pirâmides e o Vaticano.

O público com um paladar mais infantil pode encontrar resistência ao encarar The Great Circle, mas o jogo não demora nada para mostrar seu excelente planejamento, em vez de exigir 10 ou 20 horas para se tornar interessante. Com um desempenho visual impressionante e um roteiro que parece superior aos últimos filmes, este é um dos melhores jogos de 2024. Torço para que o jogo também seja apreciado por jogadores do PlayStation e do Switch 2. Não custa sonhar.

Indiana Jones and the Great Circle

SCORE - 9.1

9.1

Você vai Amar

Indiana Jones and the Great Circle é material obrigatório para quem quer experimentar um tipo diferente de triplo A de empresa de console, e além de ter uma jogabilidade apaixonante na composição, seu roteiro é melhor que alguns filmes da franquia.

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