Ao lançarmos um olhar retrospectivo  do aficionado sobre a franquia WRC, o aficionado por jogos de corrida e conhecedor desses títulos pode ser envolvido pela nostalgia e pela evolução que essa série de jogos de rally experimentou ao longo dos anos. Desde seu primeiro título no começo dos anos 2000 até a mais recente iteração, o WRC tem sido um nome sempre presente na boca dos conhecedores de jogos de rally.

EA SPORTS™ WRC

O WRC (World Rally Championship) fez sua estreia nos consoles há mais de duas décadas, em uma época em que os gráficos eram rudimentares, mas a paixão pela competição de rally estava em pleno vapor, ao contrário de hoje, onde estamos relegados a encarar jogos de corrida mais como uma exceção no mainstream do que jogos que conseguem figurar no pódio de melhores jogos do ano. Os primeiros títulos WRC eram uma mistura de desafios de pilotagem, atmosfera esforça e uma tentativa de capturar a essência do campeonato mundial de rally. À medida que a tecnologia avançava, a franquia também evoluía, enfrentando altos e baixos ao longo do caminho. Isso fez com que WRC ficasse sempre lembrada para quem ia além de Colin McRae Rally e  V-Rally.

Durante anos, diversos estúdios contribuíram para o desenvolvimento da série WRC, cada um deixando sua marca única. No entanto, esta dinâmica mudou com a recente aquisição dos direitos pela Electronic Arts. O estúdio desenvolvedor responsável agora é a renomada Codemasters, conhecida por seu comprometimento com a autenticidade e inovação em jogos de corrida, além de sempre estar oferecendo tecnologia de ponta para cada época.

EA SPORTS™ WRC

Como comentei, a franquia WRC experimentou altos e baixos ao longo de sua jornada. Enquanto alguns títulos eram amplamente elogiados pela fidelidade aos eventos reais do rally, outros enfrentavam críticas por questões de jogabilidade e falta de inovação. A história do WRC é, portanto, uma narrativa de aprendizado e adaptação um tanto errática, já que quando finalmente o estúdio da vez parecia estar entendendo a si com relação a esses jogos, era hora de passar para a próxima mão a cuidar do nome WRC.

A chegada da EA e a atribuição do desenvolvimento à Codemasters marcam uma virada significativa na trajetória do WRC. Esta mudança levanta a expectativa de uma experiência de rally mais refinada, combinando o know-how da EA na produção de jogos pra um público mais amplo com a perícia da Codemasters no gênero de corrida. Agora, confiramos se essa empreitada e dança de cadeiras deu certo.

Com a chegada do novo título WRC de 2023, os olhares atentos dos entusiastas de rally não podem deixar de notar a influência da série Dirt, uma marca registrada da Codemasters, no DNA do jogo. A decisão da EA de “trancar a série Dirt na geladeira”, como dizem os rumores, trouxe à luz a integração de elementos familiares dessa série icônica no universo WRC. Exploraremos como essa mudança afetou a experiência de jogo e o que os fãs podem esperar ao entrar nas trilhas empoeiradas deste novo capítulo.

Uma das mudanças mais notáveis é a herança da série Dirt, que agora encontra uma nova casa nas pistas de rally do WRC. Os controles enxutos, característica marcante da série Dirt, agora se mistura com o WRC, num departamento que essa última nunca conseguiu alcançar em sua trajetória, mas para ser justo, poucos concorrentes de jogos em corrida no geral pegaram esse refinamento específico. No caso de títulos WRC antigos, alguns têm controles simplesmente desagradáveis, tornando a experiência de atravessar um jogo inteiro, assim, árdua e duvidosa. Logo, neste título de   2023 podemos ressaltar problemas, mas não com os controles.

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 Os jogadores podem esperar curvas desafiadoras, saltos épicos e derrapagens controladas, características que se tornaram sinônimos da experiência Dirt. A transição suave desses elementos para o EA Sports WRC adiciona uma nova camada, já que o tipo de terreno, pequenas inclinações exercem um papel de ultra sensibilidade no comportamento de seu carro, e esse é o maior desafio do jogo.

A relação entre os terrenos reativos e a sensibilidade dos carros cria um desafio adicional. A agressividade do terreno pode resultar em danos significativos aos veículos, exigindo uma abordagem mais estratégica na condução. Cada curva, cada salto, torna-se uma avaliação cuidadosa de riscos, já que danos excessivos podem comprometer o desempenho e a capacidade de dirigibilidade do carro, que vão além da sessão atual de jogo.

Em um ambiente onde o terreno é um adversário tão formidável quanto os outros pilotos, a necessidade de reparos torna-se imperativa. Não é mais simplesmente uma corrida para a linha de chegada, mas uma gestão tática da saúde do carro. O jogador deve escolher os momentos certos para realizar reparos, equilibrando a urgência da situação com o risco de perder posições valiosas.

Preservar a saúde do carro tornou-se uma parte intrínseca do desafio em qualquer título WRC. Como agora não podemos reclamar dos controles, o que nos resta é transformar esse desafio em diversão. Como já sabemos de outros jogos de rally, é preciso ter pouco dano no carro ao fim de cada bateria, para a penalidade ser mínima nos pit stops.

Cada peça reparada deduzirá do seu tempo de corrida, então se muitas peças estão quebradas, não adianta conseguir dominar as sessões com um carro miserável em cada pista se depois você terá que pagar com tempo por estes reparos. Portanto, talvez EA Sports WRC seja o jogo onde a relação de dano e resultado de corrida estejam mais ligados entre si, onde em outros jogos, eu nunca senti que isso era um problema muito sério.

EA SPORTS™ WRC

No entanto, enquanto os controles brilham com uma luz familiar da série Dirt, há uma mudança notável de atmosfera que os fãs mais dedicados não deixarão de perceber. O clima festivo, quase eufórico, que caracteriza as experiências Dirt, parece ter ficado para trás. Em seu lugar, surge uma abordagem mais “quadradona” e técnica, reminiscente dos WRC antigos. Essa mudança, embora não diminua a qualidade da jogabilidade, pode deixar alguns fãs nostálgicos ansiando pela energia vibrante dos títulos anteriores.

E ao ligar tanto esta análise ao jogo Dirt, por favor, tenha em mente que por hora, este jogo é o Dirt que teremos, literalmente. Estúdio, temática… Tudo joga luz no fato de que em termo de rally em main stream, essa é a opção que temos no momento. A comparação se faz muito lógica pelo simples fato de que em muitos aspectos, o que estamos jogando aqui, de fato é Dirt.

A música fazia um papel muito importante em Dirt, inspirando franquias como Forza Horizon. O clima de mistura de festival musical com corridas, não deixa o jogo parecer uma experiência reclusa, introspectiva, como a maioria dos jogos de corrida ou mesmo jogo, são. O ambiente de cores, festejo e animação faz parte e faz diferença, e é exatamente isso que não temos em WRC de 2023, preferindo se manter fiel aos jogos antigos da série, encarando a atividade como um esporte, da forma mais profissional possível, num clima mais técnico, mas sem pisar num terreno tão profundo que afugentará jogadores mais casuais.

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Mas não só a festa falta, mas também mais expressividade na ambientação, nos cenários em que se corre, uma característica mais negativa presente em jogos antigos WRC. Não é por estarmos em lugares remotos que não deveríamos estar apreciando luxuosas vistas naturais. EA Sports WRC oferece uma versão mais sóbria, com um evento acontecendo em algum lugar remoto sem muita coisa a oferecer. Isso não quer dizer que esses locais sejam tão desinteressantes quanto qualquer mapa de jogo de Nintendo 64 hoje, mas certamente o jogo poderia acenar e sorrir a nós mais vezes, apostando numa direção artística mais exuberante.

Achei importante abordar esses pontos acima por mais uma vez este jogo de rally trazer coisas que podemos esperar de jogos de rally. Podemos contar com calendários de eventos, a formação de clubes, ou grupos de corredores online, e corridas fracionadas entre baterias. O interessante aqui é que podemos optar por correr em campeonatos realmente longos, caso optemos por ativar a opção de campeonatos mais realistas nesse aspecto. Para a minha pessoa, apostar na configuração “média” já proporciona uma duração boa o suficiente para quem não quer viver um Le Mans 24 Hours. A fração multiplayer de EA Sports WRC é modesta e a mim, a experiência se resumiu a 20 dos 32 corredores desistirem ao longo da corrida, saindo para o lobby, muitos sem aceitar o estilo de jogabilidade provavelmente.

No modo carreira, espere o de sempre: receber propostas de empresas, ser contratado e contratar funcionários para sua equipe. Seja patrão, pague o salário dessas pessoas, demita, contrate novas pessoas, etc.

Essa reunião de fatores e características poderá alegrar mais aqueles indivíduos famintos por jogos de rally, grandes entendedores e afins. 

EA SPORTS™ WRC

Falando em agradar, uma coisa interessante que ocorre na campanha é que temos uma barra de relacionamento com o seu patrocinador. Mantenha eles pelo menos felizes ganhando corridas e se possível gastando não muito mais que o necessário. E sim, junto de cada bateria de corridas existem gastos com pneus, consertos, salários e transporte/compra de carros específicos para cada categoria.

Na corrida, temos o jeito clássico de jogos de rally tratarem as coisas: você corre contra o tempo dos outros corredores, mas não contra eles presencialmente. Na barra lateral de progressão é possível observar o andamento do seu adversário mais adiantado, invés de passar por todo o estágio sem uma ideia mais fica de onde vocês se encontram.

EA SPORTS™ WRC

Outra modalidade que achei um tanto curiosa e diferente é a de bater os checkpoints a tempo, mas você não pode passar de um limite de velocidade e não pode também ultrapassar o limite de vagareza! Isso tudo sob pena de dedução de seus pontos de campeonato. Não precisa nem dizer que essas são as partes mais difíceis do jogo e um controle com bom manejamento do gatilho é necessário. Na versão PS5 que joguei, isso está claro, mas não deixa de tornar o jogo mega desafiador.