O grande desejo das publishers gigantes é investir pouco em um jogo e ganhar muito. Elas não se importam se isso vem de uma ideia nova ou de mais um jogo clonado de outra franquia. Não se preocupam com a qualidade, desde que o público consuma seus produtos. Mas fique tranquilo: essa prática não é exclusividade do mundo dos jogos.
Vampire Survivors é mais um exemplo de jogo que desafia todas as probabilidades, propondo uma experiência inovadora sem seguir as fórmulas tradicionais. Ele provoca as publishers ao ser um sucesso que, para elas, é incompreensível.
O mais interessante é que o jogo também confronta o próprio público “gamer”, com gráficos que remetem a jogos de revista de PC do começo dos anos 90, revelando como a comunidade pode ser hipócrita (mais sobre isso em meu texto sobre Slitterhead).
ENTENDA VAMPIRE SURVIVORS
(Pule esta seção se você já jogou o jogo base ou as DLCs anteriores)
Eu adoro quando manifestações culturais surgem no mundo dos jogos, e desta vez a febre do momento é de autoria italiana. Vampire Survivors é um jogo em que você controla o personagem visto de cima, que ataca automaticamente com projéteis a cada poucos segundos. Poucos inimigos aparecem inicialmente, sempre vindo em sua direção para cercá-lo. Seu objetivo é usar esses ataques automáticos para destruí-los enquanto se movimenta pelo cenário. Basicamente, você controla o personagem e escolhe os power-ups, ou seja, tudo funciona de forma passiva.
Como num modo horda, os inimigos aumentam progressivamente, a cada 5 minutos de tempo real. Seu objetivo é sobreviver aos ataques até que meia hora se complete (algumas fases podem ter menos tempo máximo). Como mencionei, existem os power-ups, e a principal maneira de adquiri-los é subindo de nível. Cada vez que você sobe de nível, pode escolher entre três melhorias sorteadas; algumas dessas melhorias possuem subníveis.
Para subir de nível, você coleta jóias, que são os pontos de XP que os inimigos soltam ao serem derrotados. Basta ficar de olho no topo da tela e observar a barra azul de level up. As melhorias disponíveis aumentam sua força, velocidade, defesa e até sua sorte nos sorteios, além de power-ups peculiares, como os que ampliam fisicamente o tamanho de sua arma, atingindo mais inimigos na tela. Todas essas melhorias duram apenas durante a partida atual.
Esse é o básico do jogo. É ideal para ligar um podcast, controlar seu personagem com a mão esquerda e pegar a pipoca com a direita. Que jogo gentil! Aproveite o momento e ouça o nosso podcast Supernovas Show. Assim como jogos em VR, talvez você só entenda realmente o prazer de Vampire Survivors ao experimentá-lo.
A progressão do jogo também é pouco convencional. Na tela de seleção de personagens (cada um com atributos e armas diferentes), temos a descrição do que fazer para desbloquear aqueles que ainda não podem ser comprados. Basicamente, é seguindo essas descrições de personagens e itens novos que você será guiado para o final, como uma canoa numa correnteza inevitável. Apesar da sensação de que você joga Vampire Survivors apenas para passar o tempo, essas sessões de meia hora, na verdade, representam progressão, caso você siga o “coelho até a toca”.
Há muitos mapas disponíveis, que também podem conter itens e personagens aguardando para serem desbloqueados e adicionados ao seu repertório. A propósito: alguém viu algum vampiro? Curiosamente, não existem vampiros em Vampire Survivors.
ENFIM, OS REFRESCOS
Agora chegamos à nova DLC. Vampire Survivors é bastante receptivo a colaborações com outras franquias, como foi o caso de Contra em uma DLC anterior. Você se lembra das fases de Contra que eram em visão superior? Foi uma bela oportunidade para uma brincadeira.
Seguindo a linha da parceria com a Konami (que, recentemente, tem sido resgatada pelo talento de outros estúdios), agora temos a DLC Ode to Castlevania. Primeiramente, vamos falar dos personagens oferecidos no pacote: são 20, e cada um tem suas próprias características, algumas bem detalhadas. Alucard, por exemplo, possui uma quantidade rica de animações, o que o torna tão fluido quanto era nas animações de seu jogo original. Isso demonstra um nível de cuidado com a franquia, talvez até maior do que o da própria Konami.
Essa variedade de personagens e suas características atende ao objetivo principal de Vampire Survivors: preencher e completar todas as cartelas disponíveis, incluindo personagens desbloqueados, fases concluídas e itens e armas destravados. Para a DLC Ode to Castlevania, devemos prestar atenção nas condições para destravar cada personagem, o que dá o fio condutor à obra.
Como mencionei no início, Vampire Survivors ignora alguns padrões tradicionais de design de jogos e não possui uma estrutura com começo, meio e fim. Também não é um jogo multiplayer infinito, embora conte com um excelente modo cooperativo.
Imagine um jogo viciante, com uma vasta quantidade de personagens, incluindo os das DLCs (que são bem acessíveis), onde você investe 30 minutos para avançar 2 ou 3 passos na cartela de progressão. É um jogo sem pressa, que você pode consumir aos poucos ao longo dos meses.
Adicionalmente, Ode to Castlevania traz um grande mapa, com o castelo inspirado na franquia original, além de cenários assustadores ao redor, todos recheados de inimigos clássicos de Castlevania.
Vampire Survivors: Ode to Castlevania chega para coroar um dos melhores jogos da atualidade, sendo um trabalho que desperta a admiração de desenvolvedores e publicadoras.
VAMPIRE SURVIVORS: ODE TO CASTLEVANIA
Um vício, vários cenários para uso
Do hardcore ao casual, Vampire Survivors alcança o jogador em total atividade cerebral, numa explosão de sensação de diversão. Ao entrar a parte Castlevania, o prazer é estendido mas agora com um toque de carinho e respeito a uma franquia.