BABY STEPS: SIMULADOR DE TROPEÇOS | REVIEW 

Baby Steps o início

Baby Steps, lançado em 23 de setembro de 2025 pela Devolver Digital, é um jogo que, à primeira vista, pode parecer um simulador de caminhada esquisito sem elementos frenéticos (Algo semelhante ao que foi proposto em Death Stranding) .

O protagonista, Nate, é um jovem aparentemente fracassado que vive no porão dos pais, sem perspectivas de vida. Enquanto seus pais discutem sobre seu futuro no andar de cima da casa, Nate de repente é transportado para um mundo surreal onde precisa aprender a dar literalmente cada passo sozinho.

O jogador assume o controle apenas das pernas de Nate (e se for bom de controle, o ponto onde nós iremos cair em cada tombo no jogo), em um sistema de movimentação propositalmente desajeitado, que gera situações cômicas e inusitadas ao mesmo tempo.

Após esse breve resumo, seguimos com a análise desse jogo que perambula entre o desafio e a frustração.

CADA TOMBO É UM APRENDIZADO

Acredito que de todos os pontos interessantes a se comentar sobre Baby Steps, a jogabilidade é, sem dúvida, o maior diferencial. Ao invés de um controle fluido, cada perna precisa ser movida separadamente, tornando o ato de simples de subir uma escada ou atravessar uma pedra um verdadeiro desafio.

Essa mecânica, muitas vezes engraçada, transmite uma mensagem clara: viver exige esforço constante, temos que aprender a tropeçar , levantar e prosseguir. O progresso é lento, mas cada conquista, por menor que seja, adquire grande valor.

A paciência aqui é extremamente necessária. Visto que a gravidade do jogo não colabora, muitas vezes um único tropeço em determinado lugar do jogo, fará o jogador parar a muitos metros de distância do objetivo e gerar uma frustração enorme.

FILOSOFANDO ENQUANDO JOGA

Deixando de lado o controle corporal do protagonista e partindo de um ponto de vista filosófico, Baby Steps pode ser interpretado como uma metáfora existencial.

O jogo traz uma reflexão da vida em seu sentido total: estamos em um mundo que não oferece explicações sobre absolutamente nada, e precisamos dar nossos próprios passos se pretendemos chegar em algum lugar, ainda que de forma desajeitada.

O protagonista (que parecia não ter rumo algum), é obrigado a traçar seu próprio caminho, lidando com às adversidades com esforço e persistência. Sempre seguindo em frente. A grosso modo, o jogo traz uma filosofia: A vida não nos dá sentido, nós o buscamos e o construímos através de nossos próprios passos.

DESENROLAR SEM PÉ NEM CABEÇA

Além da filosofia mencionada anteriormente, percebi uma segunda analogia quanto ao viver do ser humano.

No dia a dia, muitas coisas podem acontecer. Algumas fazem sentido, outras, nem tanto. Encontramos pessoas que continuam conosco na jornada, assim como aquelas que somem sem deixar rastros. Baby Steps traz essa mesma premissa.

O jogo apresente NPCS que surgem absolutamente do nada. Com seus diálogos aleatórios sobre chegar em algum lugar e de alguma forma prestar suporte ao protagonista. Percebi uma analogia quanto a pessoas resistentes sobre receber ajuda (Nate faz isso a todo momento durante o jogo), inclusive em momentos que de fato ele precisa de ajuda.

Esses elementos parecem fazer uma alusão ao dia a dia real das pessoas, onde não se sabe ao certo onde eu vou chegar até o final do dia, se irei encontrar alguém que irá me ajudar, se preciso realmente seguir com meus próprios pés ou se devo dar o braço a torcer e aceitar aquela ajuda.

TENTE REPARAR NO CENÁRIO

Visualmente, Baby Steps aposta em um estilo simples e cartunesco. O game conta com cenários que lembram paisagens de sonhos ou delírios, transmitindo a sensação de que Nate vive uma jornada interna, mais do que uma aventura física.

O humor também está sempre presente, não apenas nas quedas e tropeços, mas também nos diálogos irônicos que quebram a seriedade filosófica e lembram que o fracasso pode ser, em si, uma experiência divertida.

Um ponto interessante e absolutamente aleatório é: Logo nos primeiros minutos do jogo, a menos que você seja um gamer extremamente habilidoso, você irá cair. Quando isso me ocorreu, não pode deixar de reparar que os desenvolvedores deram uma atenção grande ao “pandeiro” do personagem. Agora que leu isso, tente jogar sem reparar.

CUIDADO AO JOGAR PERTO DA FAMILIA

Ao mesmo tempo que Baby Steps traz conceitos filosóficos interessantes e diversas metáforas e referências sobre o isolamento das pessoas, ansiedade, depressão e sobre a existência do ser humano adulto e seu vazio inquietante, tome um certo cuidado ao jogar perto da família.

O game conta com eventos de nudez. Caso você seja um jogador casual que geralmente joga isolado, tranquilo. Se por acaso joga na sala de estar eu recomendo fortemente que desative essa opção no jogo para que evite passar vergonha.

Considerando que o jogo fornece a opção de mostrar ou não a nudez, fico aliviado que possamos habilitar ou desabilitar essa função. Mas né? Na dúvida, já aviso de antemão.

JOGABILIDADE ABSOLUTAMENTE IRRITANTE

Retomando o assunto da gameplay, Baby Steps apresenta uma jogabilidade extremamente desafiadora. Controla-se apenas o caminhar do personagem e se eventualmente cairmos no chão, podemos controlar em partes a trajetória da queda através da movimentação das pernas.

Vendo de fora, parece simples, é só andar. Mas não se engane… Aprender a andar é a parte fácil, o complicado é lidar com a progressão de cenários e a mudança que ocorre nos elementos em nosso caminho.

Lama para deslizar para longe, água que torna o levantar mais difícil, pedras que temos de posicionar os pés em casa saliência para não cairmos todo o progresso é parte dos problemas que temos que lidar.

Eventualmente o jogador pega o jeito do caminhar, mas ainda levará alguns tombos. O problema é que não existem checkpoints na progressão, então caso caia durante a caminhada e acabe indo parar muito longe, terá que andar tudo novamente.

PELO MENOS O JOGO É LEVE

Ao contrário do “pandeiro” de Nate, o jogo é extremamente leve. Joguei através da plataforma Steam e o jogo rodou tranquilamente. O desempenho gráfico se manteve estável e não houve queda de FPS.

Outro ponto interessante é que não presenciei nenhum bug durante a gameplay, salvo um momento que fiquei preso em uma rocha pelo pé e não conseguia sair de jeito nenhum. Mas é como dizem, a exceção confirma a regra. Bastou reiniciar o game que voltou ao normal.

A trilha sonora é adequada ao jogo, não sendo um elemento surpreendente mas preservando a boa experiência em sua totalidade.

VALE A PENA?

o jogo pode afastar jogadores impacientes acostumados com gameplays simples, já que sua proposta depende da aceitação da lentidão, da frustração e da repetição. Não há lutas épicas, combates frenéticos ou recompensas absurdas escondidas em baús, muito pelo contrário, o verdadeiro “prêmio” é o próprio aprendizado de andar, tropeçar e levantar.

Logo, Baby Steps é mais do que um jogo cômico e estressante: é uma obra que convida à reflexão sobre a condição humana, sobre a dificuldade de amadurecer e sobre a beleza que existe no ato de seguir adiante.

É, ao mesmo tempo, uma sátira e crítica ao ato de existir, que transforma cada passo em uma conquista e cada queda em uma lição.

Agradeço ao time da Devolver Digital por fornecer a chave desse jogo diferente e incrível e a equipe do Supernovas por me permitir jogar e desenvolver essa análise.

Até a próxima!

BABY STEPS

NOTA - 7

7

BOM

Baby Steps oferece uma narrativa maluca, e apresenta uma gameplay desafiante. A progressão é recompensadora, mas o desafio está a altura.

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