A marca PlayStation e o amor falso a você: O que aconteceu no último State of Play

Lembra-se dos dias em que a Sony surpreendia com propostas ousadas, como no Dreamcast ou no PSP? Naquela época, era comum ver conceitos que hoje chamaríamos de “indies” — títulos pequenos, inventivos, muitas vezes sem compromisso comercial sólido, mas que mostravam a disposição da empresa em diversificar seu catálogo. Essas experiências, embora nem sempre sustentáveis, deixaram aprendizados valiosos para desenvolvedores sobre riscos e inovação.

Desde então, a trajetória da Sony se dividiu entre o auge vitorioso dos grandes AAA do PlayStation 4 — jogos que se tornaram referências de qualidade e narrativa — e investimentos em projetos game-as-a-service que, em muitos casos, não renderam o retorno financeiro esperado. Esse equilíbrio instável repercute diretamente no State of Play de junho de 2025. A apresentação traduz um momento de contenção de danos: muitos títulos multiplataforma para proteger o caixa e um cardápio de remakes, indies e DLCs de todos os lados e quaisquer empresas, que, embora confiáveis, não entregam o espetáculo gráfico ou narrativo que justifique, por si só, o investimento em um PS5.

DESTAQUES DO EVENTO

Marvel Tōkon: Fighting Souls
Um tag‑fighter 4v4 exclusivo de PlayStation 5 e Windows, desenvolvido pela Arc System Works, traz heróis Marvel em visuais tridimensionais estilizados e mecânicas inspiradas em Dragon Ball FighterZ. Lançamento previsto para 2026.

    MARVEL Tōkon: Fighting Souls | Announce Trailer

    Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles
    Square Enix confirmou um remake completo de Final Fantasy Tactics, com visuais repaginados, dublagem integral e possibilidade de alternar entre modo clássico e moderno. Chega em 30 de setembro de 2025.

      Pragmata e Nioh 3
      Pragmata, da PlatinumGames, finalmente teve janela definida para 2026, enquanto a Koei Tecmo liberou demo de Nioh 3 na PlayStation Store.

      Pragmata - First Contact Trailer | PS5 Games

      Silent Hill f e Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
      Silent Hill f retorna em 25 de setembro de 2025 com a atmosfera perturbadora mas mais sanguinária, lembrando uma versão carniceira de Fatal Fram. Metal Gear Solid Delta: Snake Eater chega em agosto de 2025, com gráficos reprojetados.

      Silent Hill F - Trailer da Data de Lançamento | PS5

      Indies e Retrogaming
      Projetos como Bloodstained: The Scarlet Engagement (2026), Sea of Remnants, Tides of Tomorrow, Digimon Story: Time Stranger (3 de outubro) e Ninja Gaiden: Ragebound (31 de julho) dividiram espaço. Níveis extras para Astro Bot e edição limitada do DualSense também foram confirmados para o verão.

      Hardware e Acessórios
      O Project Defiant, fightstick oficial sem fio, com baixa latência e botões personalizáveis, foi apresentado para o público competitivo de jogos de luta.

      Realidade Virtual
      Títulos como Lumines Arise (outono de 2025) e Thief VR: Legacy of Shadow reforçam o [baixo] compromisso com o PSVR 2.

      Death Stranding 2: On the Beach
      Lançado em 26 de junho de 2025, o jogo de Hideo Kojima e Ludvig Forssell recebeu menção rápida, lembrando sua estreia iminente.


        O CERNE DA QUESTÃO

        O que ocorreu neste State of Play é, essencialmente, uma corrida por parcerias — algumas distantes, outras próximas — mas que não alcançam o patamar de Uncharted ou God of War. Não há, neste momento, nada capaz de rivalizar com esses estandartes do PS4. A Sony optou por preservar o ritmo de investimento reduzido em grandes produções próprias, enquanto utiliza third parties como barreira para manter o catálogo relevante.

        Paralelamente, a menção a jogos como serviço foi mínima. Fica evidente que a empresa reconhece não existir afinidade do seu público mais engajado com modelos que exigem pagamentos recorrentes. No entanto, trata-se de uma reticência estratégica: o verdadeiro motor financeiro por trás de consoles modernos ainda é alimentado por títulos multiplayer massivos, como Call of Duty. Esses jogos atraem volumes de receita consideráveis e precisam fazer parte do ecossistema PlayStation, garantindo 100% dos lucros — algo que até agora não foi plenamente alcançado.

        Esse cenário deixa fãs de longa data em uma posição complicada: contentes por não verem anúncios intermináveis de live-as-a-service duvidosos, mas frustrados pela ausência de grandes exclusivos que justifiquem o investimento num sistema poderoso como o PS5.

        A estratégia de lançar uma quantidade significativa de jogos também em PC ou outras plataformas diminui o risco financeiro, mas dilui o argumento fundamental de “exclusividade”. Sem títulos que só rodem no PS5, torna-se mais difícil convencer novos compradores.

        Apostar em remakes consolidados, como Final Fantasy Tactics e Metal Gear Solid Delta, garante receita previsível. No entanto, isso pode impedir o surgimento de novas franquias e inovações que definam a próxima geração de exclusivos.

        Para mim, a frustração não reside na falta de conteúdo propriamente dito, mas na ausência de um “prato principal” lustroso. O fã da Sony necessita ser seduzido por gráficos de ponta, narrativas envolventes e continuações à altura dos clássicos. Sem isso, permanece a sensação de que o PS5 não está entregando todo o seu potencial.

        Ainda assim, é justo reconhecer que, para um State of Play anunciado de forma quase repentina, a apresentação superou expectativas baixas, oferecendo um cardápio diversificado e equilibrado entre segurança financeira e experimentação contida. Agora, cabe à Sony preparar o próximo grande evento — seja outro State of Play ou um showcase exclusivo — e revelar aquele título capaz de resgatar o brilho da era PS4 e reafirmar o poder do PlayStation 5.

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